A imagem de tinta branca a secar numa parede vai ser exibida em loop, no São Jorge, na antiga sala Rank (onde se procedia à censura no Estado Novo). Trata-se do filme que Charlie Shackleton realizou em protesto contra a comissão de classificação de filmes no Reino Unido.
Shackleton, realizador cinéfilo, é um dos homenageados do IndieLisboa, juntamente com a búlgara Binka Jeliaskova. Trabalhos que vale a pena conhecer. Do primeiro pela sua acutilância contemporânea, da segunda pelo pioneirismo histórico e pela qualidade estética de uma mulher que enfrentou a ditadura através da sua arte.
O IndieLisboa deste ano conta com a maior competição nacional de sempre, o que poderá ser sinal de um momento bom do cinema português. Entre outros, espera-se com expectativa Pai Nosso – Os Últimos Dias de Salazar, de José Filipe Costa, retrato do ditador após o AVC que provocou a real e metafórica queda da cadeira (4 mai, dom 18h, Culturgest, 9 mai, sex 10h45, Cinema São Jorge).
Sandro Aguilar estreia Primeira Pessoa do Plural, com Albano Jerónimo em destaque (6 mai, ter 21h45, Culturgest, 8 mai, qui 16h, Cinema São Jorge); e Denise Fernandes tem uma muito auspiciosa estreia nas longas-metragens, com Hanami, filmado integralmente na Ilha do Fogo, em Cabo Verde (8 mai, qui 21h30, Culturgest).
O Indie abre com uma comédia canadiana, Une Langue Universelle, de Matthew Rankin, uma homenagem ao cinema iraniano (1 mai, qui 19h, Cinema São Jorge), e encerra com um filme chinês, Caught by the Tides, de Jia Zhang-ke (11 mai, dom 21h30, Culturgest).
A competição internacional permite sentir o pulsar do mundo, como escolha heterogénea de filmes, em termos de geografia, género e formato. No Indie Music, há espaços para retratos de Milton Nascimento, Osvaldo Pantera, Meredith Monk ou um mergulho no universo das raves dos anos 1990.
No Director’s Cut, um conjunto de filmes a pensar nos mais cinéfilos, incluindo obras de culto como Diferente, de Luis María Delgado (2 mai, sex 15h30, Cinemateca, 5 mai, seg 19h30, Cinemateca), e Café Flesh, de Stephen Sayadian (8 mai, qui 21h30, Cinemateca, 9 mai, sex 23h59, Cinema Ideal). E na secção Rizoma podem encontrar-se as últimas obras de Wang Bing, Gia Coppola, Gabriel Mascaro ou Jem Cohen.
A Boca do Inferno volta a propor uma maratona de filmes no Cinema Ideal. Há ainda espaço para outras secções, como a Silvestre (com “filmes que rejeitam fórmulas consagradas”), Novíssimos ou Indie Junior, a pensar nos mais novos.
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