No cruzamento da Calçada da Estrela e da Rua das Francesinhas, junto à Assembleia da República, há quase 6 mil metros quadrados de jardim que muitos lisboetas nunca pisaram ou em que nem sequer repararam. Não se estranha o aparente desinteresse. O jardim foi construído numa cota mais baixa, sendo facilmente ofuscado pelo antigo Mosteiro de São Bento da Saúde. É preciso descer uma pequena escadaria no enfiamento da escultura da fotografia para dar pelo seu traçado geométrico, obra de Cristino da Silva, do final dos anos 40.
O arquiteto apostava num projeto tão ao gosto do Estado Novo como também é esta Família esculpida em mármore pelo mestre Leopoldo de Almeida. Não sobrara nada do bairro antigo em miniatura que uns anos antes a Câmara encomendara a Gustavo de Matos Sequeira, para entreter o povo durante as festas da cidade. E, das freiras capuchinhas francesas, apostamos que amigas do peito dos seus vizinhos monges beneditinos, apenas ficaria o nome – o jardim chama-se hoje das Francesinhas ou Lisboa Antiga. Cabe ao grupo escultórico de pai, mãe e filho abraçados, em que não faltam as pombas abençoadas, evocar a religiosidade da colina dos conventos de outras eras. E é mais do que suficiente.