Agora que, finalmente, as estações de tratamento garantem que as águas estão limpas, porque não voltar a povoar os rios com os “nossos” peixes? É essa a ideia simples por trás da criação do projeto Peixes Nativos, uma parceria da Águas do Tejo Atlântico (Grupo Águas de Portugal) com o ISPA – Instituto Universitário, a que aderiram vários municípios da Região Oeste, onde se centra a iniciativa, lançada em 2017.
“Nessa altura, os dados mostravam que, por força do tratamento das águas residuais nas nossas ETAR, tínhamos níveis muito bons de qualidade da água, e queríamos avançar com um projeto que tirasse partido disso”, conta Hugo Xambre, Vice-Presidente do Conselho de Administração da Águas do Tejo Atlântico.
Sob a coordenação científica do ISPA, foram escolhidas nove espécies que habitavam 17 ribeiras do Oeste (incluindo a Lage e o Jamor, que desaguam na Linha do Estoril) há algumas décadas, antes de desaparecerem total ou parcialmente devido à poluição ou à competição de espécies invasoras. Entre elas, estão dois peixes que se encontram na categoria mais elevada de risco de extinção (“criticamente em perigo”), a boga-portuguesa e o ruivaco-do-oeste – duas espécies endémicas de Portugal –, e outros dois na segunda mais elevada (“em perigo”), o escalo-do-sul e a enguia-europeia.
A reprodução destes peixes é feita no Aquário Vasco da Gama, seguindo-se a libertação nas ribeiras, ação que é feita em coordenação com os municípios (Torres Vedras, Mafra, Oeiras, Sintra, Alenquer, Caldas da Rainha, Óbidos e Azambuja), de forma a contar com a participação dos munícipes, sobretudo os alunos das escolas locais. “São as próprias crianças que colocam os peixes nos rios. Mas queremos também começar a chegar a um público mais sénior”, diz Hugo Xambre. A sensibilização da população para a necessidade de proteger a biodiversidade é um dos principais objetivos do projeto.
O repovoamento das ribeiras é acompanhado pela reabilitação das margens, em conjunto com os municípios, com espécies de plantas que renaturalizem os ecossistemas ao mesmo tempo que ajudam a equilibrar os níveis de azoto nas águas. O projeto conta igualmente com uma rede de monitorização, para avaliar o estado das populações de peixes durante os períodos de seca. Todos os anos, é também feito o levantamento do estado de conservação dos peixes em três estações de monitorização.
A iniciativa tem o apoio institucional do MARE – Centro de Ciências do Mar e Ambiente, do Instituto para a Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e do Pavilhão da Ciência – Ciência Viva, além do Aquário Vasco da Gama.