Opinião

"Nós somos a maioria, eles são o 1%"

“Nós somos a maioria, eles são o 1%”, diz Sanders. Enquanto assisto à queda dos princípios de igualdade perante a lei, justiça e liberdades individuais no prometido oásis das democracias ocidentais, a ideia de Sanders parece a única esperança possível. “Nós somos a maioria, eles são o 1%”

Tudo é política

Tanto fez que agora tanto faz?

Nada é mais estável do que uma ditadura. Sob uma ditadura, não há crises políticas nem escândalos. Imaginem o sossego! Acabam-se as notícias sobre casos, casinhos e megaprocessos. Acabam-se mesmo as notícias. Ninguém faz perguntas e ninguém chateia

Tudo é política

O saber não ocupa lugar?

Uma vez, um amigo (que por sinal é engenheiro informático e trabalha numa empresa de IT) disse-me que um dia olharemos para as imagens de crianças com ecrãs nas mãos com o mesmo horror que hoje nos causam as fotografias de menores a fumar ou a trabalhar em fábricas. Se chegarmos a esse dia, ainda haverá alguma esperança

Tudo é política

Trabalhos de pobre

A ideia de que o trabalho nos define está, cada vez mais, fora de moda. E talvez haja um lado muito positivo nisso. Mas o desprezo por aquilo que se faz é também um sintoma de uma sociedade deslassada, que endeusa o ilusório mérito individual e perde de vista a força do que se produz num coletivo. Estamos cada vez mais pobres. E é de espírito

Tudo é política

A armadilha do senso comum

Quem acredita que a democracia se pode construir como o reino de um “senso comum” guiado pelo “puro bom senso” está, mesmo que não se aperceba disso, a abrir caminho para uma submissão aceite sem crítica

Videovigilância | Reconhecimento facial
Tudo é política

Nas nossas costas, enquanto escolhermos não olhar

O sonho de controlo de qualquer ditador passa agora a estar disponível às forças de segurança num dos maiores blocos da democracia ocidental. Alguém se lembra de um debate sobre o tema? Quantos sabiam que estas novas regras estavam a ser cerzidas nas nossas costas? Andamos certamente distraídos. Ou deixámos simplesmente de nos importar?

Tudo é política

Nós não comemos gelados com a testa

O que importa a verdade? Nada, porque ela não nos sossega. Se o que nos inquieta é o salário que não estica, o médico que não nos atende, a escola onde falta o professor, a casa que não temos como pagar, a indignação tapa-nos o buraco da alma, o ódio dá-nos o conforto da explicação

Carta aos jornalistas
Tudo é política

Para que serve o jornalismo?

Escrevo este texto em dias de grande perturbação para a redação da VISÃO. Vivemos numa enorme incerteza. E haverá quem culpe o mercado, quem nos diga que é o futuro inexorável que aí vem, com os seus algoritmos e inteligências artificiais, quem ache que não faremos falta e quem se regozije com a possibilidade de ver desaparecer quem interroga, quem incomoda, quem escrutina e expõe. A todos gostaria de pedir que parassem para pensar e imaginassem esse futuro sem jornalismo

Tudo é política

A moral é obrigatória para os pobres

Não é difícil imaginar que Lor Neves tenha de ouvir muitas vezes um “vai para a tua terra”. O que exige muito mais imaginação é pensar que um dos 50 estrangeiros a quem o Estado português deu em 2023 uma borla fiscal de 262 milhões de euros tenha alguma vez ouvido coisa semelhante. Ao todo, estes imigrantes ricos receberam do Estado benefícios fiscais que nos custaram 1,3 mil milhões de euros no ano passado. Mas isso não causa sobressalto

Tudo é política

O poder voltou às catedrais

Mesmo que muitas vezes de forma limitada e imperfeita, a democracia é o sistema em que o princípio do voto universal dá poder aos que o não têm. Durante quanto tempo poderemos continuar a usar essa palavra para descrever um sistema em que o poder está nas mãos de um grupo restrito de pessoas que age em seu próprio benefício?

Granadas de mão e munições roubadas nos Paióis de Tancos
Opinião

O Presidente Rei era o futuro de um passado que desfizemos

Este país parece órfão, sempre à espera de um pai. Olho para trás cem anos. A História já quase lhe apagou o nome, que resiste em avenidas, cravado na pedra, escrito em moradas, já sem emoção. Sidónio Pais. Alguém sabe quem é? Era um homem numa farda, alto, bonito, de olhos doces

Opinião

Olhar o passado nos olhos, mesmo que doa

Nada é eterno. Durante 48 anos, o meu avô acreditou viver naquele que era aos seus olhos o melhor e o mais justo dos regimes. Nesses anos, milhares de portugueses viveram na miséria, calados, com medo, com fome de tudo, mas sobretudo de liberdade. Eram muitos, mas não foram os suficientes. E talvez nunca tivessem sido, se a guerra colonial não tivesse tornado absolutamente insuportável o que até aí a maioria aguentava, mais ou menos resignada

Tudo é política

As mulheres metem medo

A ideia de que há uma guerra entre géneros só favorece os homens que odeiam as mulheres. E eu acredito que nem todos os homens odeiam as mulheres. Mas por algum motivo estamos a deixar que regresse uma retórica bafienta que pensávamos enterrada num passado de horrores. Mesmo que não pareça, este é o tempo de falar de amor. E de olhar para o exemplo de Ahoo Daryaei, abraçando-nos para segurar o medo que temos por dentro, enquanto enfrentamos quem nos teme. Não, não temos de nos esconder

O papel é mau para o ambiente. Mito ou realidade?
Tudo é política

A declaração de amor que não devia ter escrito

As paixões são incompreensíveis e ridículas. E, por isso, estas linhas não dizem nada a quem não está apaixonado por fazer jornalismo. Soam a uma excentricidade fora de moda, uma arrogância fora de tempo, uma irracionalidade fora de pé. E é mesmo assim. É isso tudo. E é por isso que talvez não devesse tornar pública esta declaração de amor. Os amores segredam-se. Não se gritam

Tudo é política

O caminho para sair do medo

E é por aí que temos de ir, sabendo que a cada onda de medo e opressão que se aproxima, cabe-nos dar o peito e mostrar o caminho, porque ele existe, mas apenas se acreditarmos nele. Quando o começarmos a imaginar, ele começará a aparecer. E, então, estas frases de desalento parecerão apenas a memória de umas trevas que já deixámos (outra vez) para trás

Opinião

A capa é verde, mesmo que digam que é vermelha. Opinião de Margarida Davim

O meu trabalho é escrever que a capa de cartolina é verde. Não porque eu digo que é verde, mas porque o método jornalístico que sigo permite concluir que é verde. Não sei quantas pessoas acreditam ainda na importância de ter um jornalista a escrever que a capa de cartolina é verde. Não sei quantas estarão disponíveis para aceitar que é verde depois de ter sido induzidas a acreditar que era vermelha. Mas foi para isto que escolhi esta profissão

Tudo é política

"Exterminem todas as bestas". As crianças também

A política convive com um certo grau de hipocrisia a que em jargão diplomático se chama realpolitik, mas o sistema em que vivemos não sobreviverá à escalada da desumanização, à destruição da mais básica decência, à aniquilação de direitos que consagrámos na lei depois dos horrores do Holocausto nazi

Tudo é política

Mas, afinal, quem é que são as "pessoas"?

É que as “pessoas” não são o povo. O povo desapareceu dos discursos. Era muito coletivo e abstrato. E tinha o cheiro a bafio das coisas que já não se usam nem parecem modernas. O povo cheirava a povo. As “pessoas” são assépticas, modernas, prontas a viver num mundo novo

Tudo é política

Os suspeitos do costume

Instilar ódio aos imigrantes é tão fácil como fazer arder um eucaliptal depois de o regar com gasolina. O combustível está lá quando o salário não chega para as contas, quando não há vaga na creche, quando a consulta tarda no hospital, quando a renda da casa sobe. Isso é que o faz arder. Mas o que arde está plantado bem fundo em nós: a ideia de que as pessoas não são todas iguais e que a humanidade se mede em tons de pele e, já agora, em euros

Tudo é política

Estamos a perder amigos e a razão é política

Quando fizermos uma equação que traduza a dificuldade de ter e manter amigos devemos juntar às horas de trabalho infindáveis e desreguladas, às exigências da família, aos custos da vida social, à emigração forçada de quem procura uma vida melhor, o facto de termos casas incomportavelmente caras e serviços públicos degradados

Crimes contra crianças estão a aumentar. Outra vez 
Tudo é política

Meninos "fechados na rua"

Depois de um verão à procura de atividades para crianças e de perceber que muitas (sobretudo em agosto) têm valores absolutamente incomportáveis, pareceu-me que talvez a história deste menino não seja só de abandono e negligência, mas também de desespero e falta de apoio