Todos os anos, milhares de turistas rumam às Maldivas atraídos pelas águas cristalinas, repletas ainda por recifes de corais coloridos e cheios de vida. Nesse sentido, Luiz Rocha podia ser mais um turista, mas os corais que este cientista brasileiro procura não se encontram à distância de um mergulho de snorkeling. Para os encontrar precisa de ir mais fundo, muito mais fundo, para lá dos 30 ou 40 metros, podendo mesmo chegar aos 150. É nesta zona mesofótica, também conhecida como Twilight Zone por estar na região de transição entre a luz e a escuridão, que vamos encontrar alguns dos recifes de corais mais vibrantes, mas também menos estudados do planeta.
De facto, apesar das pessoas estarem perfeitamente familiarizadas com recifes de corais mais rasos, como a Grande Barreira de Coral da Austrália, estes mais profundos estão praticamente inexplorados e “o pouco que sabemos aprendemos no Pacífico, nas Caraíbas e no Brasil”, conta, apontando precisamente para os locais onde ele e a sua equipa, na Hope for Reefs, têm desenvolvido este trabalho pioneiro nos últimos anos. “Na maioria dos mergulhos”, brinca, “quebrávamos algum recorde ou descobríamos uma nova espécie”, mas, para se ter uma ideia do pouco que ainda conhecemos, no Pacífico a média chegou a ser dez novas espécies de peixe por uma hora de mergulho profundo − e Luiz prevê que nos recifes inexplorados das Maldivas seja ainda superior.
Estudar estes recifes mesofóticos exige técnicas de mergulho especiais, com mistura de gases e ar reciclado, nas quais Luiz Rocha é um dos poucos cientistas do mundo certificados para o fazer. “Demoramos entre cinco a dez minutos para chegar aos 100 ou 150 metros, que é geralmente a nossa profundidade máxima. Depois, temos mais cinco ou dez minutos para estudar e registar os corais e os peixes que neles habitam − sempre com um olho nos sistemas de respiração, porque a esta profundidade nada pode falhar. Ao fim desse tempo temos de largar tudo e regressar à superfície, algo que pode demorar até cinco horas.” Um regresso lento, explicado pela necessidade de fazer a descompressão.
Apesar dos perigos, não há nada que Luiz Rocha goste mais de fazer do que explorar os oceanos. Isto desde os seus 5 ou 6 anos, quando “já sabia que queria ser biólogo”. Como cresceu numa cidade costeira, em João Pessoa, “aproveitava todas as ocasiões para ir para o mar”. Foi na adolescência que começou a dar os primeiros mergulhos “mais a sério” e, desde então, já passou mais de seis mil horas debaixo de água, participando em 70 expedições científicas, metade das quais lideradas por ele. A formação académica levá-lo-ia aos Estados Unidos da América, onde tirou o doutoramento em Ciências Aquáticas e de Pesca, na Universidade da Flórida, tornando-se um dos maiores especialistas mundiais em ictiologia (o ramo da zoologia que estuda os peixes). Nessa qualidade, já avaliou as condições de preservação de mais de 500 espécies para a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Tornou-se igualmente professor na Academia de Ciências da Califórnia, onde codirige o projeto Hope for Reefs que, como o nome indica, pretende salvar os recifes de corais.
Nunca será demais salientar a importância destes organismos vivos, nem as ameaças que enfrentam. Os recifes ocupam apenas 1% da superfície do oceano, mas são responsáveis por cerca de 25% de toda a vida marinha, desde os pequenos pólipos de coral, que constituem a base do recife, até às espécies de peixes e tubarões, que nele habitam. Apesar disso, já perdemos um quarto dos recifes mundiais, 75% estão sob forte pressão e as previsões não são as mais animadoras, porque se estima a morte de mais 30% nos próximos 30 anos.
Como resultado das muitas expedições que lidera, Luiz Rocha publica inúmeros artigos avaliando as condições de preservação destes recifes e alertando para o estado da sua conservação: “Os recifes profundos são esquecidos ou negligenciados por aqueles que deveriam legislar para os proteger. Corremos, efetivamente, o risco de muitos desaparecerem antes de os termos estudado.”
É neste contexto que a equipa do Hope for Reefs se prepara para explorar o arquipélago das Maldivas. “No Índico, não existem estudos realizados em qualquer recife a mais de 60 metros de profundidade, e esse foi um dos principais motivos que me levaram a escolher a região.” Até porque, aqui, a missão passa ainda por “pesquisar a sua capacidade para abrigar espécies em risco, oriundas dos recifes mais rasos”.
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