Explorar o mar de forma sustentável. Este é um desafio onde a inovação tem um papel central e onde muito tem vindo a ser feito. Claúdia Rocha, Partner da PWC – entidade que iniciou a jornada do mar em 2005 e que, desde então, promove estudos e desenvolve projetos a nível europeu, além de apoiar as empresas privadas em temas estratégicos – afirma que a atratividade dos vários setores ligados à economia azul está a crescer e, com ela, a inovação e o investimento.
Na sua intervençãodas ESG Talks sobre o ocenao, uma iniciativa do Novobanco, organizada pela VISÃO e pela Exame em parceria com a PwC e a Nova SBE, explicou que o ecossistema do mar é abrangente – das energias renováveis à gestão de água, biotecnologia, navios e portos, aquacultura e pesca, investigação ou turismo – e os avanços tecnológicos têm acompanhado a maior perceção de valor destes ativos.
São exemplos: o desenvolvimento de parques eólicos flutuantes e a digitalização da manutenção de parques offshore; tecnologias que transformam água poluída em potável utilizando a energia solar; a produção de proteína derivada de microalgas ou o desenvolvimento de biocombustíveis a partir de algas; a produção de medicamentos, plásticos e químicos a partir de organismos marinhos; o desenvolvimento de nanomateriais que aumentam a segurança e diminuem o peso das embarcações; tecnologias de monitorização em aquacultura que previnem doenças e otimizam a produção; drones e sensores subaquáticos para recolha de dados; ou sistemas de vigilância marinha que permitem a localização precisa das embarcações nos oceanos e diminuem a pesca ilegal.
O potencial da economia azul
Os exemplos de inovação são múltiplos e variados, mas Gonçalo Costa alertou, no painel sobre “economia azul, o oceano e as empresas” que há ainda muito por fazer, numa área onde Portugal quer ser um ator de relevo. A BlueBio Alliance, instituição que dirige, é uma associação sem fins lucrativos, fundada em 2015, com o objetivo de promover e desenvolver os recursos biológicos marinhos em Portugal. Uma rede que junta todos os subsetores da cadeia de valor e promove a aceleração da inovação, através da ligação às universidades e às startups. “Existem cada vez mais startups com tecnologias validadas, mas temos ainda falta de investimento. A primeira barreira é o financiamento, devido ao risco percecionado pelos investidores”, diz. E adianta: “Somos muito bons em Portugal a gerar conhecimento. Somos muito maus a fechar o ciclo e a gerar valor a partir desse conhecimento”.
Parceiro essencial na prospeção e apoio à incorporação destas inovações nas empresas do setor é a Docapesca. Também aqui existe um foco na promoção do contacto das empresas com as universidades, investigação e incubadoras, através da rede de hubs azuis – financiados através do PRR – com o objetivo de criar um ecossistema de referência para a monitorização, prospeção e vigilância marinha e melhorar o conhecimento e exploração sustentável dos recursos do mar. Sobre a sustentabilidade da pesca em Portugal, Sérgio Faias, presidente da Docapesca, esclarece que cerca de 80% das embarcações em Portugal são de pequena pesca – “muito sustentável, é dirigida para espécies de grande valor acrescentado”. Reconhece que a atual – e futura – dimensão da população mundial – exigirá o complemento da aquacultura, que não deve ser entendida, no entanto, como atividade concorrencial: “A pesca selvagem e a aquacultura são atividades complementares. Vai continuar a existir mercado para a pesca que é feita em Portugal”.
Apostas na inovação e na colaboração que António Nogueira Leite, Presidente do Fórum Oceano, diz serem essenciais para um setor que representa hoje cerca de 5% da economia nacional: As plataformas colaborativas são essenciais para que consigamos convergir nas soluções. Há ainda muito espaço para inovar e, se formos tendo sucesso, o peso do setor do mar vai com certeza continuar a crescer na nossa economia”.
O país não dispõe de meios financeiros, públicos nem privados, para explorar o potencial de uma plataforma continental que, se espera, venha a ser o dobro dos atuais 1,8 milhões de quilómetros quadrados. Por isso, António Nogueira Leite defende a criação de parcerias que, diz, “não devem ser motivadas por quem dá mais”.
A sustentabilidade e os oceanos como recurso estratégico nacional encerraram o ciclo de conferências ESG Talks, em 2022. Uma iniciativa do Novobanco, organizada pela VISÃO e pela Exame em parceria com a PwC e a Nova SBE.