O regresso ao jardim de infância foi a meio de março, e em pouco mais de uma semana, já havia uma sala em isolamento. Mas a informação só chegou aos outros pais cinco dias depois – mais precisamente, na véspera de a instituição ser encerrada, depois de uma outra educadora testar positivo. Na sala desta, acabaram por se confirmar, entretanto, mais dez meninos infetados. Ao todo, confirmaria a escola posteriormente à imprensa, serão 49 casos.
O caso aconteceu no Colégio Cosme e Damião, em Sintra, e deixou os pais em polvorosa. “Ninguém soube atempadamente do que se passava, nem pode optar por não levar os filhos à escola, tendo em conta os acontecimentos” confirma à VISÃO a mãe de um dos meninos de 3 anos que frequenta o jardim de infância e que testou positivo dias depois de a sua educadora.
“O primeiro caso ocorreu a 24, uma quarta-feira; a educadora da nossa sala confirmou que estava positiva na segunda-feira seguinte, 29, ao fim do dia, depois de passarem mais um dia na escola, e só no dia seguinte, foi tudo encerrado”, prossegue aquela mãe, questionando se os procedimentos adotados, que a direção garantiu aos pais serem os aconselhados pelas autoridades de saúde, teriam sido os adequados.
“Agora, garantem que há pouco mais de 50 infeções em toda a comunidade escolar e que estão a proceder à testagem em massa, mas como é que podemos acreditar se, só numa sala, há dez infeções?”, questiona ainda a mãe, depois de recordar que alguns pais já tinham protestado contra o facto de educadores e assistentes operacionais do Colégio continuarem a usar máscaras sociais – e não outras, como as cirúrgicas ou FFP2, tidas como mais eficazes.
Transparência e outras obrigações
É o que conta também a mãe de outro menino com teste positivo. “Decidiram como entenderam à revelia das queixas dos pais, quando tentámos sempre, junto da direção, que se minimizasse o risco. Responderam-nos que aquelas máscaras eram certificadas, que podiam ser lavadas até 50 vezes e que deram 5 a cada funcionário para usarem uma por dia. Ora”, indaga ainda esta outra mãe, “se mesmo as cirúrgicas têm de ser mudadas de 4 em 4 horas, como é que consideram que uma destas por dia é suficiente?”, ainda para mais quando as crianças desta idade não têm de usar máscara.
A grande questão, insistem as duas encarregadas de educação, é que “as preocupações dos pais não estão a ter resposta” por parte dos responsáveis da instituição. “Sabemos que casos destes podem acontecer em qualquer lado e que é um risco que corremos quando decidimos enviar os nossos filhos para a creche. Mas inquieta-nos muito a forma pouco transparente como os responsáveis da escola lidaram com o assunto”, a confirmar que “não disseram nada” quando deviam. “Se o tivessem feito, se calhar o surto não teria estas dimensões”, lamenta uma.
Mas só depois de o caso chegar à imprensa, garantem aquelas duas mães, é que a diretora do colégio, Cidália Costa, enviou uma comunicação aos pais, lamentando o sucedido e mantendo que seguiram as indicações dadas pelas autoridades de saúde, confirmando ainda o teste a mais de 500 pessoas, entre funcionários, crianças e seus coabitantes, e adiantando que que faltava conhecer o resultado de 135 testes.
Nada que agora sossegue quem tem lá os filhos inscritos, rematam aquelas duas mães: “se em outras situações, fecharam as escolas todas, como é que se explica que ali tenha sido assim? Parece que depende de quem nos calha na rifa como autoridade de saúde, quando devia era haver um protocolo”, sublinham, que fosse igual para todos.
O pior? “Tinham obrigação moral e ética de contactar os pais desde o início: estamos a pagar, e fizemo-lo também durante o confinamento. Ou seja, os pais cumpriram com tudo, mas parece que só nós é que temos obrigações”.
Com o colégio encerrado desde dia 30, os pais do Cosme e Damião permanecem sem respostas – “já nem aos emails respondem e ninguém atende telefones”. A VISÃO também tentou contactar a escola, igualmente sem sucesso.
Já a ARSLVT, também contactada pela VISÃO, confirmou que foram já detetados 55 casos associados àquele surto, adiantando ainda que “como é habitual, a autoridade de saúde local está a acompanhar a situação e determinou as medidas de Saúde Pública adequadas à situação de acordo com as orientações da DGS” – nomeadamente a desinfeção do edifício, testagem, confinamento dos casos positivos e isolamento profilático dos contactos de risco.