Rui Tavares, porta-voz do Livre, chegou à Feira do Relógio, em Lisboa, uma hora depois do planeado, dando tempo a Vitorino Silva, do RIR (ou “Tininho”, para os amigos, que são todos quantos se cruzaram com o candidato), de conquistar o território e de seguir para Aveiro. Minutos impediram que se cumprimentassem, mas o tempo não foi a única coisa em que se desencontraram. Rui Tavares trazia as propostas concretas, que faltavam a Vitorino Silva, mas só as explicou para as câmaras de televisão. Poucos foram os comerciantes e clientes com que meteu conversa e, mesmo desses, o melhor reconhecimento que obteve foi: “é o líder daquele partido que a deputada Joacine [Katar Moreira] deixou mal”.
O plano de Rui Tavares era aproveitar a movimentação de uma das feiras lisboetas mais conhecidas, num domingo de manhã, para falar sobre a dificuldade de aquecer as casas em Portugal e o transporte escolar. Tinha mesmo propostas concretas para apresentar, explicou, aos jornalistas, no ponto de encontro, junto aos estúdios da RTP. O Livre defende a comparticipação de 100% das despesas que os cidadãos possam ter a isolar as suas casas ou a colocar aquecimento e quer carrinhas elétricas com auxiliares de ação educativa a irem buscar as crianças a casa, para evitar que os pais usem o carro particular para esta deslocação.
Segundo o fundador e cabeça de lista por Lisboa do Livre, tanto uma como a outra medida trariam benefícios ambientais. Para além de vantagens para o Serviço Nacional de Saúde, evitando-se algumas doenças no pico do frio, e para a carteira dos portugueses, que “poupariam na fatura da eletricidade e do gás”. “Somos o país da Europa Ocidental onde se passa mais frio dentro de casa, no inverno”, disse Rui Tavares, admitindo que “é um plano caro”, mas com potencial para estar concretizado “em dois ou três anos”. As suas estimativas envolvem um custo de 1500 milhões de euros, que iria buscar ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). No entanto, não partilhou este raciocínio detalhado com nenhum dos cidadãos com que se cruzou.
Contam-se pelos dedos das mãos o número de conversas que travou e a maioria não foi além da entrega do panfleto programático e de uma troca de impressões sobre os locais de nascimento de um casal de padeiros, de Almeirim, e de Margarida, que se mudou de Ponta Delgada, Açores, para a capital, onde, esta manhã, fazia compras. Receoso do mar de gente de que estava rodeado, durante uma pandemia, o candidato não chegou a descer os três quilómetros da Avenida Santo Condestável, e deu o dia por terminado, passado cerca de uma hora – em que metade foi passada em diretos para os canais de televisão noticiosos.
Entrou e saiu sem ter ouvido uma única promessa de voto. Essas foram todas para Vitorino Silva, que correu a feira, entre as 9:30 e as 11:00, e deixou as pessoas a falar de si o resto da manhã. Apesar de o território do ex-candidato às Presidenciais ser o norte, o líder do RIR vinha numa missão: conquistar Lisboa. Tal como Rui Tavares vinha acompanhado por uma comitiva com cerca de uma dúzia de pessoas, mas, no caso de “Tino”, estas nem precisaram de se mexer muito, já que o líder sozinho conseguiu abraçar e entregar o calendário para 2022 do partido a todos quantos se cruzou. E ninguém lhe foi indiferente. Uma espécie de rock star da política, que deu autógrafos, tirou fotografias, implorou votos e até a um polícia de serviço fez prometer que votaria RIR no próximo dia 30. Já das roulotes de bifanas, até a mulher teve dificuldade em arrancar “Tino”, pronto para dar uma ajuda na cozinha.
Por onde passou, recolheu simpatia e recebeu abraços bem apertados de admiradoras da sua música. Vitorino não cedeu e prometeu só cantar dia 30, perante a pergunta do marido de uma fã: “não é casado? Porque não vai abraçar a sua mulher?”. Acabou o abraço, mas não desistiu da sua mensagem: “Toda a gente conhece aqui o Tininho, menos as empresas de sondagens” e “no dia 30 vão ter uma surpresa, porque nós vamos ter um grupo parlamentar”.
Sobre medidas, Vitorino Silva apenas disse que, a ser eleito, quer primeiro dedicar-se aos mais velhos, aos jovens e reduzir 10% no IVA da restauração, nos combustíveis e nas portagens. Quanto à ideologia mantém que não é de esquerda, nem de direita e quer entrar no Parlamento para fazer “pontes”. Só recados para os jornalistas, porque, na Feira do Relógio, as pessoas queriam era falar “com o nosso Tininho”, que não pôde ficar para cumprimentar Rui Tavares, pois dali a umas horas havia que estar nas festas de São Gonçalinho, em Aveiro, e ainda ir terminar a noite ao Porto. “Há muitas ruas, um dia ainda nos vamos encontrar. Talvez no Parlamento”, desejou.