O debate começou com simpáticos cumprimentos: – “Boa noite!”. – “Boa noite, Rui”.
O primeiro tema foi a Justiça. O presidente do Chega lançou logo um soundbyte: “PS e PSD estão preocupados em silenciar a justiça, querem pôr uma mordaça na justiça!”, afirmou. Rui Tavares pegou na palavra, e então tudo descambou. O líder do Livre começou com um forte ataque, explicando que, nos últimos dias, foi partilhada, nas redes sociais, “uma fotografia” dos seus filhos com o propósito de mostrar que estes frequentam “escolas internacionais [privadas]”. “[O deputado] Pedro Frazão do Chega começou a utilizar este argumento como arma de arremesso político e dá nestas coisas”, afirmou, garantindo que foi colocada em causa a “segurança de crianças” de um caso que descreveu de “devassa da vida privada”.
André Ventura não se conteve perante esta introdução. Pior, disse “não saber” do que se tratava, mas aproveitou o tema para arrastar o assunto durante largos minutos, contaminando o debate até ao fim – que nunca mais se endireitou. Ventura aproveitou o tema para acusar o adversário e a esquerda de “incoerência” e “hipocrisia”. “É o mesmo que a avó da Mariana Mortágua (…) eu andei na escola pública a vida toda, se tem filhos na escola privada é uma escolha sua… estranho pelas coisas que defende”, referiu.
O presidente do Chega recordou ainda que Rui Tavares afirma que “escola pública é a melhor do mundo”, mas depois tem filho na escola privada: “É um pouco hipocrisia e a coerência em política é importante”, defendeu em vozearia. O líder do Livre tentou responder, dizendo que a “incoerência seria não defender escola internacional pública” e que “escola pública dê mais respostas e seja mais atrativa”.
Os amigos do meu inimigo
A partir deste momento, o debate fez-se de berros, interrupções e acusações. Esclarecimentos, poucos ou nenhuns. Rui Tavares acusou André Ventura de ser aliado de “Trump, Bolsonaro e [Viktor] Órban”, que acusou de ser “o político mais corrupto da Europa”, e ainda próximo do italiano Matteo Salvini.
Já André Ventura acusou Rui Tavares de fazer parte dos “amigos” de Cuba, que “não é contra que cidadãos [cubanos] lutem pela Rússia”, que é próximo de Lula da Silva (presidente do Brasil) e ainda de ter feito parte de um conselho consultivo de uma organização apoiada pelo “maior oligarca do mundo, que financia organizações”, referindo-se a George Soros. Disse, também, que “vocês [o Livre], apoiam o regime de Nicolas Madura na Venezuela.
Utilizando a estratégia de sempre, André Ventura causou o ruído habitual quando Tavares falava. O líder do Livre ainda tentou explicar a sua estratégia para apoiar o crédito habitação para jovens e classe média, através de um fundo público. Com dificuldade. André Ventura gastou mais tempo (outra vez), e não deixou o adversário falar livremente no dele (apesar dos esforços da moderadora).
Indumentária
André Ventura e Rui Tavares não desiludiram, mas também não surpreenderam. Foram fiéis ao estilo que preferem: Rui Tavares de blazer de meio-tempo cinzento e camisa lisa branca; André Ventura o seu habitual fato escuro, com camisa azul e gravata vermelha “Trump” – o habitual choque de cores.
A rasteira
André Ventura aproveitou a entrada “a pés juntos” de Rui Tavares para passar o resto do debate a “rasteirar” o adversário. O presidente do Chega sentiu-se como “peixe na água” num debate que foi muito mais uma discussão, e não terá esclarecido ninguém.
As farpas
O debate foi feito de farpas e mais farpas. Os “amigos” estrangeiros de cada partido foram enumerados pelo adversário, como “arma de arremesso” político.
Os ausentes/presentes
Rui Tavares acusou os deputados do Chega, Pedro Frazão e Filipe Melo, de utilizarem como estratégia a partilha de fake news e desinformação, no Parlamento e nas redes sociais. O caso da fotografia dos filhos de Rui Tavares “contaminou” o debate. O líder do Livre acusou o deputado Frazão de contribuir para tornar a “questão familiar” de Tavares um assunto viral. Por sua vez, Melo (de Braga) foi acusado de ter “mentido” no tribunal ao afirmar que George Soros patrocinou o partido em 300 mil euros. “É mentira”, afirmou Tavares.
Frases & Soundbytes
Rui Tavares:
“Não se atreva a interromper quando falo da minha família”.
“Como é evidente o Chega trabalha na base de mentiras e na criação de rumores”.
“André Ventura é o representante em Portugal dos Trumps e dos Órbans”.
André Ventura:
“Rui Tavares quer toda a gente à solta, bandidagem ou não, violadores, homicidas, terroristas”.
“Vocês são a maior muleta do PS em Portugal”.