Ao final da tarde, um cacilheiro chega à Outra Banda a cada 15 minutos, apinhado de trabalhadores e estudantes. Nesta segunda-feira, junto à rampa de acesso a Cacilhas (Almada), a massa humana apressada foi recebida pela comitiva do Livre, pouco mais de 20 pessoas – quase todos homens, jovens (apenas duas mulheres) –, bandeiras “tulipa” desfraldadas ao (muito) vento, e panfletos nas mãos.
Rui Tavares esteve à cabeça deste grupo, distribuindo flyers, que incluíam algumas das principais propostas do partido. O líder do Livre não é um homem de multidões, mas cumpre estoicamente o papel; por vezes, “refugia-se” numa conversa mais individual. Mas procura resistir no posto que lhe está destinado. Alguns populares reconhecem-no, dão-lhe os “parabéns”, desejam-lhe “boa sorte” para dia 10 de março. A maioria finta a receção. O habitual.
Estamos na reta final da campanha eleitoral e, à vista do Tejo, um jovem apoiante do partido resume a ação recorrendo a uma analogia marítima: “Isto é como ir à pesca do atum…”. No balde do pescador, porém, o que se espera somar são votos. No Livre, todos admitem que, para domingo, esperam um “crescimento” nas urnas, confirmando o que nos têm dito todas as sondagens até agora publicadas.
“As pessoas já conhecem o partido. Conhecem o líder, o nome, o símbolo… Estas pequenas coisas são muito importantes. Só podem votar em nós as pessoas que sabem que nós existimos”, refere Rui Rui Tavares. “O trabalho parlamentar conta muito. As pessoas reconhecem-no, associam já meia-dúzia de propostas ao Livre, sabem que se trata de um partido de esquerda, da esquerda verde europeia, aliás, que foi uma expressão que ‘pegou'”, sublinha.
Rui Tavares também não tem dúvidas que “o Livre vai crescer” nestas eleições. Agora, falta saber quanto: “A questão é saber se o Livre vai crescer um bocadinho ou se vai tornar-se mais forte. O que temos de dizer às pessoas, até às eleições, é que o voto no Livre é o único à esquerda que não vai deixar tudo na mesma. Queremos uma solução política de esquerda, consequente, para garantir que não se vão repetir os erros das legislaturas de 2019 e 2022, que não chegaram ao fim. Isso só aconteceu, em parte, porque não tivemos uma esquerda com a visão de futuro que o Livre tem defendido”, afirma.
E que futuro é esse? Rui Tavares continua a propor “um acordo multilateral entre os partidos de esquerda, por escrito”, acreditando que esse passo vai garantir “uma estabilidade governativa” que não se verificou nos últimos anos. A jornada do Livre no município de Almada – que contou com a presença de Paulo Muacho, cabeça de lista por Setúbal – incluiu ainda uma visita ao Centro Social da Trafaria, instituição da Santa Casa de Almada, que inclui creche e jardim de infância e ainda um centro de dia que trabalha com população sénior, parte com problemas associados à demência.
Talvez por, minutos antes, se ter demorado pelo Jardim das Reminiscências – alameda interna que congela memórias (tem uma cabina de telefone antiga, autocarro, quiosque, fonte, entre outras coisas) –, Rui Tavares tem insistido no regresso ao passado recente para explicar porque escolher o Livre, no futuro imediato, “é a melhor solução”. “Já se percebeu que as pessoas estão cansadas da maioria absoluta, e que não querem pôr todos os votos num só partido. O Livre é o voto útil à esquerda, e o que permitirá ter mais votos que a direita democrática e afastar a extrema-direita do poder”, acrescenta.
Junto dos seus, Rui Tavares sente-se em “casa”. Falta saber que papel lhe vão atribuir os portugueses nas urnas – e que “peso” terá o Livre na formação da nova Assembleia da República.