No programa de entrevistas da VISÃO, o IRREVOGÁVEL, o deputado ao Parlamento Europeu Nuno Melo, 55 anos, que anunciou, no passado fim-de-semana, a sua candidatura à liderança dos centristas, nega que as suas posições mais conservadoras sigam a agenda do Chega. Quer em matéria de costumes, quer na área da segurança, quer ao nível de programas como o do subsídio de reinserção social, “O CDS já cá estava antes, quando André Ventura ainda andava pelo PSD”. Mas, adverte, “eram assuntos que o CDS tratava com responsabilidade e bom senso e não de forma radical e discriminatória entre portugueses, como faz o Chega”. O candidato que desafia a liderança de Francisco Rodrigues dos Santos acredita que “se quisermos combater o Chega e a IL, para recuperarmos o eleitorado que deixou de encontrar motivos para votar no CDS, e vai votar noutros, temos de falar nas coisas. Mas, ao contrário do Chega, não distingo entre grupos ou entre portugueses nem anatemizo minorias. Quando o CDS falava dessas questões, fazia-o de forma responsável, com bom senso, e no quadro de partido estruturante do sistema. O Chega fá-lo com radicalismo e apelando ao do que pior existe nas pessoas”.
Assumindo que é preciso combater o Chega e a IL no seu próprio terreno, Nuno Melo reafirma, porém, que, na sua perspetiva, o CDS continua a ser estruturante no sistema. Pessoalmente, posiciona-se como “conservador nos costumes, liberal na economia e democrata-cristão na assistência social”. Mais, propõe-se fazer a síntese e ser a ponte dessas várias correntes no seu partido.
O candidato critica o facto de, com a atual liderança, o CDS ter perdido a imagem de “partido de quadros”: “Tivemos sempre personalidades altamente qualificadas, que discutiam qualquer área, apresentando propostas, e que, mesmo para quem não votava em nós, eram reconhecidas pelo seu mérito. Na Agricultura, na Saúde, na Administração Pública, na Economia, na Segurança… Hoje, ninguém sabe quem são os quadros do CDS. É esse friso de credibilidade que quero recuperar”.
Para o fazer, Nuno Melo anuncia a realização, no final do mês, de uma grande “Convenção Programática”, onde contará com a participação de quadros quailificados do partido e da sociedade civil, uns mais conhecidos, outros menos, para que dali saia o guião da moção que apresentará no Congresso de 27 e 28 de novembro. Esses “estados gerais” serão a incubadora de novos valores, com a criação de “15 salas virtuais” que servirão de aconselhamento em 15 áreas fundamentais.
Tornando-se o candidato que interpela diretamente o atual líder, Nuno Melo não se deixa impressionar pela narrativa de vitória nas autárquicas e até critica a estratégia seguida: “O presidente do CDS não pode apropriar-se de muitos dos sucessos nas autárquicas.” Ainda por cima, diz, em muitos dos locais onde concorreu sozinho, “o CDS ficou a baixo do Chega e até da IL”. Por outro lado, aponta, “fizeram-se coligações a metro por todo o lado, isto num contexto político novo, em que temos dois partidos à direita, que não existiam antes, e que passaram a pescar diretamente nas nossas águas. Ora, quando não temos presença, é como se não existíssimos e outros preencherão o nosso lugar”.
Tendo como principais referências, no CDS, Adriano Moreira, Francisco Lucas Pires e Paulo Portas, Nuno Melo não esclarece se, em caso de vitória, abandonará o Parlamento Europeu. Mas vai dizendo que um líder partidário precisa de uma tribuna política e que, hoje, ao contrário do que sucedia anteriormente, um deputado europeu já tem um palco impotante, que garante o reconhecimento dos cidadãos. Mas diz que no momento próprio anunciará se continua em Bruxelas e Estrasburgo ou se se mudará para o Largo do Caldas, em “regime presencial” contínuo. Promete trazer mais mulheres e jovens para os órgãos nacionais, propõe-se reforçar a ligação ao grupo parlamentar e garante que será muito interventivo: “Já viu o presidente do CDS pronunciar-se sobre o Orçamento do Estado agora apresentado? Eu já teria realizado uma conferência de imprensa e já teria falado ao País…”
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