“Mal vestes o fato, ele provoca alguma coisa em ti. Começas a comportar-te de uma maneira específica”, contou Robert Pattinson à revista norte-americana GQ. O ator de 35 anos experienciou o poder do famoso Batsuit ao protagonizar o novo filme “The Batman”. O mais recente fato do Homem-Morcego tenta, ao máximo, apostar no realismo, tal como acontece com o caráter da personagem por detrás da máscara.
“Isto é o mais baseado na realidade que o Batsuit consegue ser”, afirmou Dave Crossman, que, juntamente com Glyn Dillon e Jacqueline Durran, desenhou o fato da personagem para este filme. Em declarações à CNN Style, Crossman e Dillon explicaram que optaram por deixar pespontos e fechos visíveis, de forma a conferir à vestimenta um caráter mais simples e humilde. A aproximação ao real implica também investir na praticidade: “Uma das coisas em que pensámos foi: “bem, se realmente existisse, [o Batsuit] teria um fecho e conseguiria ser vestido facilmente””, imaginou Dillon.
Na mesma linha, a máscara facial do Batman imita couro cosido à mão, algo inovador face às anteriores máscaras do super-herói da DC Comics. Além disso, tem alguns arranhões e marcas de balas, que aludem a confrontos passados da personagem. As sobrancelhas surgem na máscara menos levantadas e cravadas que o habitual. A ideia é neutralizar a expressão do rosto do Homem-Morcego, para que passe mais facilmente despercebido enquanto protege a cidade de Gotham à luz da Lua.
O macacão do fato está protegido por uma armadura que, na zona do peito, se assemelha a um colete à prova de balas. Este aspeto militar constitui uma das maiores diferenças entre os Batsuits mais recentes e os primeiros, que eram meros macacões de tecido. Por um lado, representa, desde logo, um passo numa direção oposta à fantástica, uma vez que é precisamente desta forma que os humanos se protegem de ameaças balísticas. Por outro lado, o designer Crossman acredita que esta mudança se deveu ao progressivo crescimento dos orçamentos para a produção dos filmes, o que permitiu ter acesso a materiais de maior qualidade.
Regressando ao fato envergado por Pattinson, o cinto, um dos mais famosos adereços do super-herói, e o coldre onde guarda a arma, vêm também de uma inspiração policial. “Parece definitivamente que ele [o Batman] roubou coisas do posto da polícia”, gracejou Glyn Dillon.
Único por dentro e por fora
No novo filme, o realismo é evidente não só no fato do Homem-Morcego, como também na versão que o realizador Matt Reeves construiu de Bruce Wayne, a personagem por detrás da máscara de super-herói. O também coargumentista quis, então, contar a história de um Wayne sombrio, zangado e magoado, que ainda não ultrapassou a morte dos pais.
A inspiração partiu do género cinematográfico noir e de Travis Bickle, a mentalmente perturbada personagem principal do filme “Taxi Driver”, interpretada por Robert de Niro, em 1976. “[O filme] é uma tragédia”, disse Robert Pattinson. Relativamente à experiência durante as filmagens, o ator principal chegou mesmo a confessar: “não me tinha apercebido do quão triste me iria fazer sentir”.
O intérprete referiu ainda que o novo filme do Batman é “incrivelmente diferente” de todos os outros. “Há infinitas maneiras de reinterpretar a personagem”, explicou. Glyn Dillon acredita que talvez essa seja mesmo a beleza deste super-herói: “viver eternamente” através de uma interminável panóplia de representações artísticas.
O Homem-Morcego começou a sobrevoar o mundo da banda desenhada em 1939, pelos lápis do artista Bob Kane e do escritor Bill Finger. A imensidão de um franchise que perdura há mais de 80 anos foi, por vezes, “paralisante” para os criadores do vestuário da personagem no “The Batman”.
Por exemplo, Dillon partilhou que, quando começou a desenhar o fato, as orelhas foram o que primeiro esboçou. E foi então que se preocupou: “de que tamanho são as orelhas?” Na verdade, os fãs do super-herói prestam bastante atenção aos detalhes, pelo que, para eles, a dimensão dessa parte do fato “é um assunto importante”, afirmou.
Mas os designers acabaram por seguir o próprio instinto, pois, tratando-se de “uma personagem tão icónica”, já todos conhecem o fato habitual. Logo, ao conceber o vestuário para o mais recente filme, perguntavam-se: “Do que é que nós gostávamos?”
Mesmo assim, alguns aspetos foram recuperados de tempos mais antigos, como foi o caso das cores. O fato usado por Pattinson é cinzento e a capa é preta, fielmente às origens da personagem. Este Batman “não é outra gota preta”, apontou Crossman. Foi também reintroduzido o amarelo – que já não fazia parte da vestimenta do super-herói desde 1997 -, através de um pequeno apontamento na manga.
“The Batman” estreou na semana passada em Portugal e foi um sucesso imediato. Até ao momento, é a estreia mais rentável do ano, com 490 mil euros de receitas em bilheteira. A sequela é certa, uma vez que o contrato que Robert Pattinson assinou com a produtora Warner Bros é para uma trilogia.