O ‘rapper’ e ativista angolano Luaty Beirão, internado sob detenção numa clínica de Luanda, terminou a greve de fome de protesto contra a sua prisão preventiva ao fim de 36 dias, informou hoje o advogado.
O site Rede Angola publica esta terça-feira uma carta “dedicada aos 14 companheiros detidos e à sociedade civil” que terá sido enviada pela família de Luaty.
Na carta, Luaty garante: “Não vou desistir de lutar, nem abandonar os meus companheiros e todas as pessoas que manifestaram tanto amor e que me encheram o coração. Muito obrigado. Espero que a sociedade civil nacional e internacional e todo este apoio dos media não pare. (…) Abracemos todo o amor que recebemos e agarremos todas as ferramentas. Juntos. Já não somos os ‘arruaceiros’. Já não somos os ‘jovens revús’. Já não estamos sós. Em Angola, somos todos necessários. Somos todos revolucionários.” E acaba com um apelo. “Vamos dar as costas. E voltar amanhã de novo”, anunciando no fim: “Vou parar a greve.”
Na missiva Luaty recoroda que “iniciou dia 21 de Setembro em protesto contra o excesso de prisão preventiva”. fome. Na “Carta aos meus companheiros de prisão” o ativista descreve o dia em que tudo começou: 20 de Junho de 2015. “Junho vai longe. Passámos muitos dias presos em celas solitárias, alguns sem comer, com muitas saudades de quem nos é próximo. Pelo caminho sentimos a solidariedade da maioria dos prisioneiros e funcionários. Tivemos apoio de família e amigos.”
“Tive a oportunidade de me aperceber do que nos espera lá fora e queria partilhar convosco o que vi: Vi pessoas da nossa sociedade, que lutaram pelo nosso país e viveram o que estamos a viver, a saírem da sombra e a comprometerem-se em nossa defesa, para que a História não se repita. Vi pessoas de várias partes do mundo, organizações de cariz civil, personalidades, desconhecidos com experiências de luta na primeira pessoa que, sozinhos ou em grupo, se aglomeram no pedido da nossa libertação. Já o sentíamos antes, mas não com esta dimensão.”
O ativista dedica a carta aos seus companheiros: Domingos da Cruz, Afonso Matias “Mbanza Hamza”, José Gomes Hata, Hitler Jessia Chiconda “Samussuku”, Inocêncio Brito, Sedrick de Carvalho, Fernando Tomás Nicola, Nelson Dibango, Arante Kivuvu, Nuno Álvaro Dala, Benedito Jeremias, Osvaldo Caholo, Manuel Baptista Chivonde “Nito Alves” e Albano Evaristo Bingo.
Todos os ativistas estão detidos no Hospital-Prisão de São Paulo, depois de terem estado presos no Estabelecimento Prisional de Calomboloca, na Unidade Prisional do Kakila e no Hospital Psiquiátrico e Comarca Central de Luanda. Todos acusados de “atos preparatórios para prática de rebelião e atentado contra o Presidente da República”. Luaty Beirão está internado na Clínica Girassol, em Luanda, desde o dia 15 de Outubro.