O chumbo do Orçamento do Estado e a previsível marcação de eleições antecipadas acrescentou uma crise política e uma nova fonte de incerteza a empresas e famílias, num horizonte que era já de dificuldades económicas. Depois dos confinamentos que destroçaram as cadeias de fornecimento globais, o restart da máquina comercial foi insuficiente para os picos de procura. Escasseiam componentes, disparam os preços dos transportes, das matérias-primas e da eletricidade, numa “tempestade perfeita” e de contornos inéditos que fazem galopar os custos e ameaçam o ritmo de recuperação mundial no pós-pandemia.
Após o forte crescimento homólogo da Zona Euro no terceiro trimestre – mais 3,7% –, alguns indicadores sugerem problemas no abastecimento, enquanto o aumento dos preços das matérias-primas tira gás à economia, apontando para uma estagnação no final do ano. A recuperação de 4,2% em Portugal não atenua as preocupações sobre o impacto destas crises simultâneas. “A disrupção a que estamos a assistir nas cadeias de abastecimento mundiais está a ter implicações no normal funcionamento da atividade empresarial e a colocar dificuldades no ritmo de recuperação da economia”, diz Luís Miguel Ribeiro à VISÃO. O presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP) nota que, apesar de as exportações já estarem a crescer face ao período pré-pandémico, “em alguns setores, nomeadamente com forte especialização na nossa estrutura produtiva, têm-se registado quebras, como é o caso das exportações de material de transporte, vestuário, calçado, entre outros”.