Diz que não sabe bem se foi ele que escolheu os pinguins ou se foram eles que o escolheram, mas Pablo García Borboroglu sabe que quando visitou pela primeira vez uma colónia – tinha então 18 anos, hoje tem 50 – ficou maravilhado.
“Popi”, como sempre lhe chamaram, cresceu a ouvir contar histórias de pinguins. Os avós fugiram da Turquia no início do século passado e estabeleceram-se em Comodoro Rivadavia, na Argentina. Foi nessa pequena cidade, em plena orla atlântica patagónica, que a avó descobriu estas pequenas criaturas e se apaixonou por elas. Mais tarde, já em Mar del Plata, passou esse amor ao neto e este, quando cresceu, tornou-se um dos maiores especialistas mundiais da espécie – e o seu grande defensor.
Depois desse primeiro encontro, não tardou muito até que o jovem Borboroglu tomasse a decisão de fazer uma pausa sabática nos estudos, juntando-se a uma legião de voluntários que procurava salvar os pinguins dos derrames petrolíferos. Nessa altura, entre os anos 1980 e 1990, as marés negras eram bastante frequentes, matando em média 40 mil pinguins por ano. Pablo e todos os outros voluntários lavavam os animais com água e sabão, salvando milhares. Nunca conseguiram levar a tribunal um único responsável, mas despertaram a opinião pública para o tema e obrigaram o governo a criar rotas mais afastadas da costa para os petroleiros e as empresas alterarem as suas práticas. Uma grande vitória, mas que não deixava os pinguins fora de perigo.
Basta dizer que, hoje, além da poluição global que leva estes animais a procurarem alimento cada vez mais longe, os pinguins são uma das espécies de aves mais afetadas pela indústria da pesca e com um território mais diminuto. Tanto que a International Union for Conservation of Nature (IUCN) classificou 14 das 18 espécies existentes como estando ameaçadas. “Mais de metade das espécies de pinguins no planeta estão em risco. Enfrentam ameaças no mar e em terra. É uma combinação explosiva”, explica.
Na linha da frente, Borboroglu é o primeiro a afirmar que “ajudar os pinguins é ajudar os oceanos e ajudar os oceanos é ajudar-nos a nós próprios”, mas nem mesmo ele poderia prever como, ao desembarcar numa pequena ilha perdida algures na imensidão da Patagónia Argentina. A história é um clássico: ele estava lá para ajudar pinguins, ela para salvarlobos-marinhos. Apaixonaram-se, casaram-se, tiveram dois filhos e viveram felizes para sempre. Ou, pelo menos até agora. Em 2009, a sua mulher, Laura Reyes, foi também fundamental para a criação da Global Penguin Society (GPS). Desde então, a organização já conseguiu proteger 3 230 000 hectares de área marítima e terrestre. Uma área superior à da Bélgica, maior do que um terço de Portugal.
O mundo está atento ao seu trabalho e, em 2018, Borboroglu recebeu um Whitley Gold Award, considerado o Oscar verde da conservação. Nos prémios, “a voz do planeta”, Sir David Attenborough, explicou que “as pessoas adoram os pinguins, mas desconhecem o seu declínio. A GPS concebeu soluções para solucionar esse problema”. No ano passado, foi a vez de a Rolex distinguir este biólogo como Associate Laureate. Os Rolex Awards for Enterprise, atribuídos por um grupo de cientistas internacionais de renome, destacam esta iniciativa global que abrange três continentes, estratégias de conservação mais eficazes e sobretudo o envolvimento das comunidades locais na luta. Especialmente as crianças, que participam ativamente em ações de conservação. Até ao momento, já envolveram mais de 7 000 miúdos porque, como gosta de dizer, “a mudança começa com eles. E começa agora”.
Oceano de Esperança é um projeto da VISÃO em parceria com a Rolex, no âmbito da sua iniciativa Perpetual Planet, para dar voz a pessoas e organizações extraordinárias que trabalham para construir um planeta e um futuro mais sustentáveis. Saiba aqui mais sobre esta missão comum.