Tal como tu, quando eu era menino também adorava histórias de super-heróis. Não havia desafio que eles não vencessem nem vilão que não apanhassem.
Apesar de não existirem assim tantos super-heróis, vê só a minha sorte: um deles morava no meu bairro. Então, tinha eu uns pequenos 7 anos, resolvi bater-lhe à porta, autorizado pelos meus pais, para lhe pedir um autógrafo. Atendeu-me de avental e colher de pau.
– Agora não posso, que tenho a comida ao lume disse-me.
Isto foi para mim uma total surpresa. Passava-me lá pela cabeça que os super-heróis também comiam! E ainda menos imaginava que, vivendo sozinhos, tivessem de preparar as refeições.
Muito simpático, acrescentou logo a seguir:
Mas, se quiseres entrar, assino o teu caderno depois de apagar o fogão.
Aceitei o convite, eufórico por conhecer a sua casa. Foi tão amável que, ao acabar de cozinhar, perguntou-me se eu era servido.
Embora os meus pais me esperassem para o almoço, aceitei provar um pouco, convencido de que um super-herói faz uma superrefeição.
– Argh! exclamei ao levar o garfo à boca.
Parecia que ele tinha despejado o saleiro para dentro do tacho.
E, como já tinha o autógrafo, arranjei uma desculpa para me vir logo embora. Eu não suportava um prato tão salgado.
Aprendi que não há super-heróis perfeitos. Precisam sempre dos outros para certas coisas. Aquele precisava de quem lhe temperasse a comida. Vim depois a saber como se chama o lado fraco de um super-herói: calcanhar de Aquiles. Todos temos um.
Qual é o teu?
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MARIA INÊS ALMEIDA, 35 anos, é autora de livros infanto-juvenis, como Quando Eu For Grande (Planeta) e Duarte e Marta (Porto Editora), coleção que assina em coautoria com Joaquim Vieira. No blogue ondevamoshoje.blogs.sapo.pt, dá sugestões de ocupação de tempos livres a pais e crianças
Na próxima semana, outro miniconto: Rosalinda, de António Mota