Menção Honrosa
Final diferente do Texto Dramático Leandro, o rei da Helíria de Alice Vieira.
VIOLETA: É apenas comida sem sal, senhor.
(Vozes distantes)
VOZ: “Quero-vos como a comida quer ao sal…”
VOZ: “Fora do meu reino, filha maldita!…”
PASTOR: Que enorme mal! Como diz a minha Briolanja: grande vai o mal na casa onde não há sal!
In: Cena XI, Leandro, o Rei da Helíria de Alice Vieira.
CENA XI Final
Leandro, Violeta, Bobo, Pastor, Reginaldo
REI: Expulsar-te foi a maior barbaridade que já fiz. Agora que não vejo com os olhos, vejo com o coração e percebo como fui injusto contigo e…
VIOLETA (interrompe): Por ter sido a única que foi verdadeira nas suas palavras! Às vezes os reis apenas ouvem o que os lisonja.
REI: E seu coração, filha, quem lhe diz que sou?
VIOLETA (sorri): Diz-me que sois Leandro, rei de um reino que se chamou Helíria, meu pai!
(Longo abraço)
REI: O meu amor era tão grande que me cegou!
VIOLETA: Estranho amor! Terminou quando eu não disse o que queríeis ouvir… aprenda, meu pai, quem ama verdadeiramente não pede nada em troca!
REI: Só hoje entendi o que me disseste. Pensava que me desprezáveis e deixei-me deslumbrar por palavras ocas…
PASTOR: Como diz a minha Briolanja: palavras ocas, orelhas moucas!
REI: O sal pareceu-me insignificante!
REGINALDO: Por vezes aquilo que nos parece insignificante é o mais importante!
REI: Agora sou eu que te digo… quero-te mais que à luz dos meus olhos! Aprendi a viver sem ela, mas nunca conseguiria passar sem a tua lembrança. O teu rosto esteve sempre no fundo de meu coração e nunca precisei de olhos para o ver.
BOBO: Precisa é de juízo para não voltar a fazer asneiras! Essa foi da grossa… Se não tivéssemos encontrado o nosso amigo…
PASTOR (vaidoso): Godofredo Segismundo, pronto para vos servir!
BOBO: …ainda agora andávamos por esses caminhos… (Fala para a plateia, as restantes personagens ficam estáticas) Ainda bem que a história foi inventada há muitos, mas mesmo muitos anos… Se fosse agora, com tantas pessoas a defender que o sal faz mal, o final tinha que ser diferente e ninguém saía daqui! Mas, antigamente o sal era tão importante que, por vezes, servia para pagar os ordenados! Já ouviram falar em salário? Vem de sal. Mas falem com os professores que eles é que sabem explicar essas coisas! (Ri) Vou-me… sou preciso para o final da peça!
REI: Minha bela filha, como posso remediar o mal que fiz?
VIOLETA: Existe uma lenda que diz que no subterrâneo deste castelo vivia uma feiticeira que curava o povo e ajudava-o nas colheitas. Um dia, um mineiro encontrou o seu esconderijo e descobriu que ela fazia poções e não medicamentos com ervas. Acusou-a de bruxaria! Ela foi para a fogueira.
REGINALDO: Ao ser queimada, ela disse que quem cometesse um grande erro, como o que o povo cometeu ao julgá-la mal, mas fosse capaz de reconhecer o seu erro, conseguiria entrar na sua gruta mágica e servir-se de todas as suas poções. (Vira-se para o rei). Ninguém o conseguiu ainda!
BOBO (desconfiado): Não gosto de bruxas… e fogueiras… só para fazer bons assados!
REI (levanta o dedo): Silêncio!
BOBO (aborrecido): Lá vem a mania do (a imitar o rei) REI DE HELÍRIA!
VIOLETA: Bobo, os nossos campos estão secos. O povo desespera. Precisamos de ajuda… fertilidade (olha para o pai, ajoelha-se perante ele). Pode ser que encontremos uma poção que cure a cegueira!
REI (determinado):Tudo por ti, minha filha. Embora para mim seja suficiente o teu doce odor a violetas, seria tão bom rever o teu delicado rosto… o de tuas irmãs!
(Reginaldo empurra um armário e revela uma porta muito ferrugenta. Entram… as luzes apagam-se… quando reacendem, estão defronte de uma porta com o desenho de uma mão).
VIOLETA (pega na mão do pai e com ela toca na porta. A porta move-se): Abriu!
REGINALDO (entra na sala minúscula, com prateleiras cheias de poções e começa a ler rótulos): Morte, Vida, Amor, Mau Cheiro, Maus Fígados… Visão…Fertilidade… (grita) encontrei (pega na poção da visão e dá um gole ao rei)!
REI (piscando os olhos): Consigo ver! Ainda estás mais bela do que antes.
(Abraça Violeta)
BOBO (aparte): Agora que consegue ver, será mais fácil acertar-me com os pontapés.
(Violeta pega na poção da fertilidade)
VIOLETA (em delírio): O povo está salvo! Graças à grandeza de Leandro, que foi o rei da Helíria e voltará a sê-lo agora que vê o Mundo com os olhos do Coração!
(as cortinas fecham)
BOBO (com a cabeça de fora das cortinas): Pois, pois, rei não sei de quê!
REI (por trás das cortinas): BOOOOOOOOBOOOOOOOOOOOO!
BOBO: Oops! Ele ouviu, tenho de ir! Já me cheira à perninha de javali de Briolanja.
Tudo está bem quando acaba bem!