1. Sing Sing, de Greg Kwedar
Nomeado nas categorias de Melhor Argumento Adaptado e Melhor Ator (Colman Domingo)
A Academia Americana de Cinema descobriu o encanto dos atores não profissionais com décadas de atraso, mas ainda assim não deixa de ser notável o fenómeno de Sing Sing, mais ainda no contexto político norte-americano atual.
Em César Deve Morrer (2012), excelente documentário dos irmãos Taviani, descobre-se uma encenação de Shakespeare feita por reclusos de uma prisão italiana. Em Sing Sing, Greg Kwedar acrescenta uma camada de ficção: os reclusos fazem de si próprios, para contar uma história prisional do grupo de teatro que formaram. E talvez o que faça mais a diferença é que estes atores não profissionais são verdadeiros atores, com toda a noção de palco e de set. Um dos nomes que se tem mais falado é Colman Domingo, que brilhantemente abraçou este projeto, emprestando a sua experiência aos outros. Mas quase todos merecem destaque. Com Colman Domingo, Clarence Maclin, Sean San José > 107 min
2. O Brutalista, de Brady Corbet
Nomeado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Realização (Brady Corbet), Melhor Ator (Adrien Brody), Melhor Atriz Secundária (Felicity Jones), Melhor Ator Secundário (Guy Pearce), Melhor Argumento Original, Melhor Banda Sonora, Melhor Fotografia, Melhor Design de Produção, Melhor Montagem
Na pole position para a corrida dos Oscars deste ano está O Brutalista, do jovem realizador e ator americano Brady Corbet. Um filme que ganha uma leitura política acrescida no atual contexto dos Estados Unidos.
Corbet conta a história de um arquiteto judeu húngaro, sobrevivente ao Holocausto, que decide emigrar para os EUA, em luta pelo sonho americano. No país de todas as oportunidades, passa por inúmeros obstáculos, incluindo a xenofobia, na sua persistente luta para encontrar estabilidade para si e para a sua família. O filme conta com um elenco de luxo, com Adrien Brody em destaque. Recorde-se que Brody também foi o ator principal de O Piano, de Roman Polanski, e beneficia da memória do espectador para uma maior credibilidade da interpretação.
O Brutalista, primeiro filme de fôlego de Corbet, tem feito um percurso notável, vencendo, entre outros, o Leão de Prata, em Veneza, e três Globos de Ouro, incluindo o de Melhor Filme na categoria de Drama. Na lista dos nomeados aos Oscars 2025, soma dez nomeações. Com Adrian Brody, Felicity Jones, Guy Pearce, Joe Alwyn > 214 min
3. A Semente do Figo Sagrado, de Mohammad Rasoulof
Nomeado na categoria de Melhor Filme Internacional (Alemanha)
Uma obra maior de Mohammad Rasoulof, A Semente do Figo Sagrado retrata o declínio moral do Irão. O realizador iraniano constrói personagens que vivem com dilemas morais profundos, e vão definindo um posicionamento ético, político e psicológico com o correr da ação, nunca se enquadrando num perfil estático. O contexto são as recentes grandes manifestações juvenis violentamente reprimidas pelas autoridades. Mas o protagonista não é um estudante em luta contra o regime, antes um “procurador” em luta consigo próprio. Ao drama do país sobrepõe-se um drama familiar – e um serve de metáfora para o outro.
No meio do choque de valores, entre o dever de obediência e a libertação moral, prevalece uma ideia de inevitabilidade. Há um regime de medo e suspeita, em que não se pode confiar nos entes mais próximos; um Estado que maltrata os seus filhos, um regime que está a ruir por dentro, numa falência moral incontrolada. O véu acabará por cair. Com Soheila Golestani, Missagh Zareh, Mahsa Rostami, Setareh Maleki > 168 min
4. A Complete Unknown, de James Mangold
Nomeado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Realização (James Mangold), Melhor Ator (Timothée Chamalet), Melhor Ator Secundário (Edward Norton), Melhor Atriz Secundária (Monica Barbaro), Melhor Argumento Adaptado, Melhor Guarda-Roupa, Melhor Som
É fácil ceder à tentação de chamar biopic (biographical picture) a este A Complete Unknown, até porque os filmes biográficos de grandes figuras da música têm sido uma tendência recente (Freddie Mercury, Elton John, Elvis…). Mas é preciso dar ouvidos ao realizador James Mangold, que já em 2005 tinha assinado um filme sobre a vida de um nome grande da música norte-americana: Walk the Line, em que Joaquin Phoenix interpretava o papel de Johnny Cash. E diz Mangold à revista francesa Les Inrockuptibles: “Nunca encarei este meu filme como um biopic, que me parece uma expressão redutora, muito cara aos críticos e ao campo académico, mas pouco respeitadora das naturezas, por vezes muito diferentes, dos filmes que são assim designados.”
Não lhe chamemos, pois, biopic, mas desde as primeiras imagens sabemos que estamos perante um filme que nos quer contar uma história, de uma forma bastante clássica. E essa história é a de Bob Dylan, acabado de chegar do seu Minnesota a uma Nova Iorque invernal com um estojo de guitarra na mão e o ar tímido, introspetivo, de quem tem dificuldade em encarar diretamente os seus interlocutores. A narrativa seguirá por ordem cronológica, sem que Mangold sinta necessidade de experimentalismos e abordagens menos convencionais.
O jovem ator francês Timothée Chamalet, nascido em 1995, compõe um retrato muito convincente desse outro jovem norte-americano no início da década de 60, de cabelos desgrenhados, à la Rimbaud, acabado de chegar à grande cidade. P.D.A. Com Timothée Chamalet, Edward Norton, Monica Barbaro, Boyd Holbrook > 141 min
5. Ainda Estou Aqui, de Walter Salles
Nomeado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Filme Estrangeiro (Brasil) e Melhor Atriz (Fernanda Torres)
Walter Salles entende bem que a dimensão de uma tragédia cresce mediante a dimensão da felicidade que se destrói. Por isso, toda a primeira parte do filme é dedicada ao retrato de uma família feliz, com uma casa aberta, que absorve toda a movida cultural e intelectual do Rio de Janeiro dos anos 70.
O início do filme é quase frenético, na forma como nos envolve numa sequência de cenas, de ação rápida, de um mundo que invejamos. Esteticamente é um vislumbre, pela inclusão de filmagens Super 8, mas também pela banda sonora: a música toma conta do filme, com grandes êxitos que fizeram aquela época, de Erasmo Carlos, Mutantes, entre outros.
A verdadeira tragédia é a ditadura militar brasileira, e o seu sistema de terror, que implicava tortura e desaparecimentos sumários. A história baseia-se no caso de Rubens Paiva, ex-deputado brasileiro,que foi levado para interrogatório pela polícia militar e desapareceu sem deixar rasto, para desespero da sua mulher e dos seus cinco filhos.
O filme é construído tendo como base um anunciado turning point que acontece in medias res. Tudo o que está antes, por mais colorido que seja, cresce com a tragédia anunciada; tudo o que está depois desenvolve-se tendo como base essa mesma tragédia. A construção parece simples, mas a abordagem é hábil.
6. Anora, de Sean Baker
Nomeado na categoria de Melhor Filme, Melhor Realização (Sean Baker), Melhor Atriz (Mikey Madison), Melhor Ator Secundário (Yura Borisov), Melhor Argumento Original e Melhor Montagem
Não é todos os anos que um filme rotulado como “comédia romântica” recebe a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O mérito é do realizador norte-americano Sean Baker. Mas Anora, obviamente, não é uma comédia romântica qualquer. O filme conta a história de amor entre uma trabalhadora sexual de Nova Iorque e o filho de um oligarca russo. Baker é uma referência do cinema independente que já tinha mostrado o seu talento no extraordinário The Florida Project. Daqui deve partir para voos mais altos. Com Mikey Madison, Mark Eydelshteyn, Yuriy Borisov > 139 min
7. Emilia Pérez, de Jacques Audiard
Nomeado em 13 categorias, entre as quais Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Atriz (Karla Sofia Gascón), Melhor Actriz Secundária (Zoe Saldaña), Melhor Argumento Adaptado, Melhor Filme Internacional (França)
O filme Jacques Audiard lidera no número de menções para os prémios mais importantes da indústria cinematográfica centrada nos EUA. São 13 nomeações, um recorde para um filme falado em língua não inglesa, um thriller musical sobre um barão da droga, Manitas del Monte, que acaba com a sua vida anterior como a conhecia e ressuscita como a mulher que sempre sentiu ser, Emilia Pérez.
Mas teria sido assim se já fossem conhecidos os antigos tweets da atriz Karla Sofia Gascón na rede X quando se pronunciou sobre o assassinato de George Floyd, a comunidade muçulmana ou a diversidade nos Oscars – e que foram lidos como racistas e xenófobos?
A Netflix, que adquiriu o filme para o mercado americano, tenta agora conter os danos e já afastou a atriz espanhola, também nomeada ao Oscar, da promoção de Emilia Pérez nos EUA. O serviço de streaming retirou mesmo o nome de Karla Sofia dos cartazes e anúncios que incentivam os membros da Academia, para efeitos da votação final que agora vai decorrer, a prestarem atenção (“for your consideration) ao filme e às atrizes que como coletivo tinha sido distinguido com um prémio de interpretação no Festival de Cannes, em maio de 2024. Com Karla Sofia Gascón, Selena Gomez, Zoe Saldana e Adriana Paz > 130 min
8. A Substância, de Coralie Fargeat
Nomeado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Realização (Coralie Fargeat), Melhor Atriz (Demi Moore), Melhor Argumento Original e Melhor Caracterização
O regresso da atriz Demi Moore a um papel de protagonista faz-se num filme que tem todas as características do body horror, um subgénero dos thrillers, em que as intervenções no corpo/mente humanos estão em destaque. É a segunda longa da realizadora francesa Coralie Fargeat, também autora do argumento que lhe valeu um prémio na edição deste ano do Festival de Cannes. A “substância” do título, traficada no mercado negro, permite a quem a toma (como a protagonista, depois de ser despedida por a considerarem demasiado velha…) tornar-se uma versão muito aperfeiçoada de si próprio. Mas claro que não vem com literatura inclusa a avisar para os terríveis efeitos secundários… P.D.A. Com Demi Moore, Margaret Qualley, Dennis Quaid, Hugo Diego Garcia > 141 min
E ainda…
Outros três filmes nomeados aos Oscars que vão estrear-se nas salas de cinema portuguesas em fevereiro
- A Rapariga da Agulha, de Magnus von Horn (Melhor Filme Estrangeiro) 13 fev
- O Atentado de 5 de Setembro, de Tim Fehlbaum e Moritz Binder (Melhor Argumento Original) 20 fev
- No Other Land, de Basel Adra, Rachel Szor, Yuval Abraham e Hamdan Ballal (Melhor Documentário) 20 fev
A 97.ª edição dos Oscars está marcada para dia 2 de março (madrugada de 3 de março, hora portuguesa). Em Portugal, terá transmissão em direto na RTP e, pela primeira vez, no canal de streaming Disney+.