A grande escala do quadro de Miguel Ângelo Lupi que retrata o Marquês de Pombal, exposto no cimo do primeiro lance de escadas de acesso à exposição, há de fazer parar os visitantes. Mas é num pormenor que devemos focar a nossa atenção. Nas mãos, o secretário de Estado do Reino durante o reinado de D. José I tem os planos de reconstrução da cidade após o terramoto de 1755, que agora, e pela primeira vez, se mostram no renovado Museu de Lisboa – Palácio Pimenta.
Encontramo-los numa das 11 salas do primeiro andar da exposição de longa duração que reabriu ao público, depois de três anos encerrado para remodelações. Desde 2015 que o núcleo-sede do Museu de Lisboa, no Campo Grande, estava em obras.
Trata-se de um momento importante na história recente do museu. “Com a reabertura do primeiro andar, abre-se na totalidade a nova exposição de longa duração. Sendo um museu sobre a cidade e para a cidade, era fundamental alterar e haver dinamismo”, destaca a diretora, Joana Sousa Monteiro. Da longuíssima história de Lisboa – mais de dois mil anos –, contam-se partes que se destacam por razões várias, com conteúdos atualizados e outros novos. Neste piso agora reaberto, a cronologia começa no século XVII e vai até ao século XX, momento em que se ergue a Expo’98, projeto transformador da cidade.
Novas narrativas sobre Lisboa
Logo na primeira sala, das 11 do percurso expositivo, mostra-se ao visitante uma das pinturas mais relevantes de toda a coleção. O quadro do pintor holandês Dirk Stoop, uma das mais importantes vistas do Terreiro do Paço, onde existia o Paço da Ribeira, conta-nos muito sobre a Lisboa desta época. “Temos o apogeu desta praça solene e da sua importância no mundo, a representação da chegada a Lisboa de D. Francisco de Mello e Torres, 1º Conde da Ponte e embaixador extraordinário de Portugal em Londres para a negociação do casamento entre D. Catarina de Bragança e Carlos II de Inglaterra, mas também a multiculturalidade da cidade já existente neste período”, continua Joana Sousa Monteiro.
Galeria de fotos
É no século XVII, quando Lisboa fez parte do império espanhol dos Habsburgos, que se retoma o fio condutor da História. Entre maquetas, tapeçarias, cartazes, gravuras, pinturas, fotografias, mobiliário, cerâmica e azulejo, a nova narrativa conta com 300 peças, cerca de metade das quais se mostra pela primeira vez na exposição permanente do museu, um verdadeiro regalo. A cada olhar, aparece um novo detalhe, uma nova curiosidade e uma nova informação. Há gavetas nos expositores para se abrir e vídeos que pedem uma paragem.
Mais abrangente, cronológica e geograficamente, a exposição aborda pela primeira vez a evolução urbanística, com a construção de novos bairros para alojar a população que se fixava na cidade, infraestruturas como a ponte sobre o Tejo, o aeroporto ou as primeiras estações do metropolitano de Lisboa. Mas também nos mostra a evolução social e cultural da cidade, e temas como a escravatura ou a inquisição (apresentada numa pequena sala escura).
Algumas peças e momentos hão de avivar a memória aos visitantes, e os mais jovens vão surpreender-se com as descobertas. Há imagens da construção do bairro de Alvalade, a maqueta cor-de-rosa do projeto do arquiteto modernista Cristino da Silva para a praça do Areeiro, exposta integralmente pela primeira vez, e o modelo da estátua Soberania, obra do reconhecido escultor Leopoldo de Almeida para a Exposição do Mundo Português, em 1940. Faz-se referência ao incêndio do Chiado e às Festas de Lisboa e destaca-se o projeto de transformação da zona oriental da cidade com a realização da Expo’98, tema que encerra esta nova viagem sobre a História de Lisboa.
Museu de Lisboa – Palácio Pimenta > Campo Grande, 245, Lisboa > T. 21 751 3200 > ter-dom 10h-18h (última entrada 17h30) > €3