Sentemo-nos de frente para o palco e preparemo-nos. Estamos prestes a assistir a um espetáculo que não sabe bem o que é, mas também não quer saber. Quis Saber Quem Sou, dizem-nos os protagonistas, é talvez um concerto teatral. E já que falamos em protagonistas, uma nota: aqui não existe plural. Só há um – o coro de inspiração grega, composto por 13 jovens atores e cantores, do qual se destaca Bárbara Branco.
O espetáculo começa com um monólogo em Língua Gestual Portuguesa, interpretado por Vasco Seromenho, um irónico grilo falante que abre caminho para o que vem a seguir, um texto que apela ao inconformismo, critica a inércia e deixa um alerta: “anda à solta um mau fado”. O silêncio dos gestos contrasta com a voz barulhenta e vibrante do coro que, a partir daí, nos leva numa viagem feita de muitas citações e canções. E até um excerto do último discurso de Amílcar Cabral, proferido em janeiro de 1973, antes de ser assassinado.
Não faltam temas bem conhecidos, como Que Força É Essa, de Sérgio Godinho, Lembra-me um Sonho Lindo, de Fausto, Coro da Primavera, de Zeca Afonso, ou Somos Livres, de Ermelinda Duarte, mas também há lugar para o cancioneiro revolucionário do GAC – Vozes na Luta, o coletivo fundado em maio de 1974 por José Mário Branco, Fausto, Afonso Dias e Tino Flores. Pelo meio, algumas surpresas, como Balumukeno, de Bonga, Como Nossos Pais, de Elis Regina, ou Blackground, do Duo Ouro Negro, porque, afinal, a liberdade de Abril não foi sonhada apenas em Portugal.
“A vontade inicial foi trazer para o presente este património que é ao mesmo tempo artístico, político e revolucionário e contém uma mensagem tão poderosa que, 50 anos volvidos, estas canções deram uma volta e parece que tudo voltou a fazer sentido”, explica Pedro Penim, autor, encenador e diretor do Teatro Nacional D. Maria II.
A opção por um elenco jovem, acrescenta, resulta da vontade de passar o testemunho, pois considera que “o perigo de esquecimento do que aconteceu é mais real para esta geração”, apesar de ser também aquela na qual se deposita a esperança. A estes jovens atores junta-se o veterano Manuel Coelho, no papel de testemunha do que realmente aconteceu naquele 25 de Abril.
O espetáculo conta com a colaboração de Filipe Sambado, a quem coube a direção musical, e de João Neves, na direção vocal. Quis Saber Quem Sou integra o ciclo Abril Abriu do Teatro Nacional D. Maria II. Depois de Lisboa, o espetáculo seguirá para Aveiro (24-25 mai), Porto (31 mai e 1 jun), Loulé (7-8 jun), Tomar (8 ago) e Coimbra (15-16 nov).
Quis Saber Quem Sou > Teatro São Luiz > R. António Maria Cardoso, 38, Lisboa > 20-28 abr, ter- sáb 20h, dom 17h30 > €12 a €15