Ecoanarquista, ecofascista ou apenas mais um serial killer que encontrou nas causas ambientais e antitecnológicas um pretexto para exprimir a sua raiva e a sua violência? Ted Kaczynski, que ficou para a História conhecido como Unabomber, é um dos mais intrigantes assassinos em série americanos. Por um lado, devido ao tempo que passou até ser apanhado pelas autoridades, quase 20 anos, motivando a mais dispendiosa investigação do FBI de todos os tempos; por outro, porque, aparentemente, por detrás dos atos de violência extrema, existia uma causa respeitável: salvar a Humanidade dos avanços tecnológicos que, mais tarde ou mais cedo, acabariam por destruir o planeta.
A complexidade de Kaczynski faz com que os vários retratos feitos, em documentário ou ficção, abordem o seu exemplo com pinças, pois parte da sua ideologia tem eco no urgente discurso ecológico tão vigente hoje em dia – mas trata-se, evidentemente, de um caso em que os fins não justificam os meios. Tony Stone arrisca fazer um filme em que não se esconde o lado mais humano do terrorista. Entra de forma profunda na descoberta da personagem. Encontramo-lo na sua cabana em Montana, onde resolveu esconder-se da sociedade, depois de ter sido reconhecido como um prodigioso matemático, com doutoramento em Harvard. A cruzada de Kaczynski é ideológica, a planificação, cerebral.
O filme cose-se com textos do próprio, excertos de milhares de páginas escritas ao longo dos anos, que servem também para definir a sua personalidade: autoconsciente, de uma inteligência extrema, obcecado e meticuloso, perigoso, temperamental. Tudo isto é bem conseguido graças, em grande parte, à interpretação de Sharlto Copley, provavelmente no melhor papel da sua carreira. Ficamos mesmo a acreditar que Unabomber está ali, à nossa frente, nos ecrãs de cinema.
Ted K, o Unabomber > De Tony Stone, com Sharlto Copley, 120 min