LISBOA
1. Foi Assim, Teatro da Politécnica

Os Artistas Unidos regressam a Jon Fosse, um escritor com quem a companhia tem uma relação especial, para levar à cena um monólogo sobre um pintor no final da vida. Em Foi Assim, ao longo de uma hora, o ator José Raposo expõe as dúvidas, as inquietações e as fragilidades de um homem à beira da morte. Triste? Nem por isso.
Para o encenador António Simão, nesta peça, que mais parece uma pauta musical, existe “uma ponta de esperança, de conhecimento”. “O texto foi escrito em verso livre, mas com tempos, e são estes que vão abrindo significados”, explica à VISÃO Se7e. No final, abundam as referências à espiritualidade, numa alusão clara à recente conversão de Jon Fosse ao catolicismo: na plateia, estamos vivinhos da silva, mas somos nós que ficamos sem saber como respirar com tamanha vulnerabilidade humana. S.B.L. Teatro da Politécnica > R. da Escola Politécnica, 54, Lisboa > T. 96 196 0281 > até 15 abr, ter-qui 19h, sex 21h, sáb 16h e 21h > €10
2. Ópera Na Colónia Penal, no São Luiz Teatro Municipal

Na Colónia Penal, um explorador está de visita a uma ilha tropical, onde um antigo comandante vai aplicar a pena de morte a um soldado, acusado de insubordinação, sem que este tenha sequer direito a defesa. Para tal, é usado um engenho que, qual deus ex machina, tortura primeiro o condenado, escrevendo-lhe a sentença na pele com agulhas em ferro. Neste texto, são trabalhadas as ideias de arbitrariedade mas também de de bom e de mau, universos permeáveis um ao outro. “Hoje, pomo-nos sempre do lado do discurso crítico, porque achamos que é mais moderno”, afirma o encenador Miguel Loureiro. “E temos horror às grandes afirmações.”
Quando o público entra na sala, ouve-se já um som grave, a máquina está a libertar gases. No fosso do palco, Martim Sousa Tavares conduz cinco músicos. “Uma das coisas de que mais gosto no minimalismo é o sentido de expansão que este me dá. São ciclos muito longos, que escondem a passagem do tempo”, explica Sousa Tavares em relação à música de Philip Glass. “O engraçado é que aqui eu estou a descobrir o outro lado do minimalismo, o da clausura, o da música que não desenvolve, que não avança.” “É como estar dentro da máquina”, conclui. Uma sensação que passa para os espectadores? C.M.S. São Luiz Teatro Municipal > R. António Maria Cardoso 38, Lisboa > T. 21 325 7640 > até 26 mar > qui-sáb 20h, dom 17h30 > €12-€15
3. Jardim Zoológico de Cristal, Teatro Meridional
Natália Luiza encena aquela que é considerada a mais autobiográfica das peças de Tennessee Williams. Em Jardim Zoológico de Cristal, recuamos até aos anos 30 do século passado, com a América em plena Grande Depressão, numa economia em dissolução. Em palco, no Teatro Meridional, estão Ana Catarina Afonso, Carolina Cunha e Costa, Diogo Martins e Rodrigo Tomás a dar corpo a esta história. Teatro Meridional > R. do Açúcar, 64, Beco da Mitra, Poço do Bispo, Lisboa > T. 91 999 1213 > até 8 abr, qua-sáb 21h, dom 16h > €12
4. Má Sorte, a partir de John Ford, Teatro A Comuna

A mais famosa e controversa tragédia do dramaturgo britânico John Ford (1586-1639?), Má Sorte Ter Sido Puta (Tis Pity She’s a Whore, no original) ressurge numa versão cénica assinada por Cátia Terrinca e Sofia Berberan, a partir de tradução de Cucha Carvalheiro. Publicada pela primeira vez em 1633, a peça centra-se na relação incestuosa entre Giovanni e Annabella. Devido ao tema do incesto (e à ambiguidade como Ford o trata), manteve-se durante quase três séculos como uma peça maldita, não raras vezes omitida de antologias do autor ou, quando representada, merecedora de outro título. Nesta encenação para dois atores, assinada por Paulo Laje, o “amor egoísta, diabólico e destruidor” de Gio e Bella (nomes assumidos na atual versão) são o mote para uma reflexão sobre o desejo e a morte. Teatro A Comuna > Pç. de Espanha, Lisboa > T. 21 722 1770 > 23-26 mar, qui-sex 21h, sáb 19h, dom 16h > €6 a €12
5. Noite de Reis, Teatro da Trindade

Últimos dias para assistir a este “William Shakespeare musical”, uma comédia sobre o amor, com dramaturgia e encenação de Ricardo Neves-Neves. Com um elenco inteiramente masculino – Adriano Luz, António Ignês, Cristóvão Campos, Dennis Correia, Filipe Vargas, João Tempera, José Leite, Luís Aleluia, Manuel Marques, Marco Delgado, Rafael Gomes, Renato Godinho e Ruben Madureira -, o retrato simples e cómico, e por vezes profundo e existencial, personificado pelas trocas de identidade, disputas amorosas, constantes folias e partidas. Teatro da Trindade > R. Nova da Trindade, 9, Lisboa > T. 21 342 3200 > até 26 mar, qui-sáb 21h, dom 16h30 > €10 a €20
6. Todas as Coisas Maravilhosas, Estúdio Time Out Lisboa

Este monólogo interpretado por Ivo Canelas é da autoria do dramaturgo inglês Duncan Macmillan, que foi também adaptado para televisão, com interpretação do irlandês Jonny Donahoe (pode ser visto na HBO).Todas as Coisas Maravilhosas é a história de um menino de 7 anos que acompanha o seu cão na ida ao veterinário para ser eutanasiado. Foi o seu primeiro contacto com a morte. Depois, a mãe tentou suicidar-se. Fez-lhe então uma lista de coisas boas da vida e escreveu-as nos lugares mais inusitados da casa. Elementos do público são escolhidos para se tornarem parte da história, que na versão portuguesa tem referências musicais e locais adaptados ao nosso imaginário, mas todos – ator e audiência – se sentem parte de uma energia que nos faz transbordar de contentamento. Como diria o poeta Manuel Gusmão: “Contra todas as evidências em contrário, a alegria.” C.M.S. Estúdio Time Out Lisboa > Av. 24 de Julho, 49, Lisboa > 23-26 mar, 6-9, 13-16, 20-26 abr > qui-sex 19h30, sáb-dom 16h30, 19h30 > €20 > As receitas da sessão das 19h30 do dia 8 de abril reverterão para a UNICEF, no âmbito dos trabalhos que decorrem na Turquia devido ao terramoto
7. A Morte do Corvo, Hospital Militar da Estrela
Estamos em 1924. A funerária Nevermore é a fachada que esconde o quartel-general da delegação lisboeta da Ordem dos Corvos, uma sociedade secreta que procura o segredo da vida para além da morte. A liderá-la está Edgar Allan Poe, uma das personagens históricas que A Morte do Corvo, um projeto de teatro imersivo, “ressuscita” para participar na narrativa ficcional em que também entram, entre outros, Fernando Pessoal, Ofélia e Mário de Sá-Carneiro.
Dominado pela inveja indomável que nutre em relação a Pessoa, Poe arquiteta um plano diabólico para levar o poeta à loucura e causar a sua morte. Senhoras e senhores, “bem-vindos ao funeral anunciado de um dos maiores poetas de sempre”. Nas quase duas horas que dura a peça, o público é convidado a seguir livremente nove personagens e a perder-se por mais de 25 salas, labirinticamente distribuídas ao longo dos dois mil metros quadrados do antigo Hospital Militar da Estrela. Em cada sessão, de aproximadamente 100 minutos, a história repete-se duas vezes, permitindo aos espectadores optar por assistir a outras cenas e seguir personagens diferentes. M.A.N. Hospital Militar da Estrela > R. Santo António à Estrela, 29 A, Lisboa > até 30 jul, qua-sáb 21h, dom 17h > €38-€60 (VIP)
8. Lar Doce Lar, Teatro Municipal Joaquim Benite, Almada

Estreada em 2012, e reposta em 2022 no Teatro Maria Matos, a peça que junta os atores Joaquim Monchique e Maria Rueff em palco continua a subir ao palco e, desta vez, em Almada. A narrativa, a partir de O que Importa é Que Sejam Felizes, de Luísa Costa Gomes, com encenação de António Pires, é sobre duas idosas que partilham um quarto na Residência Sénior Antúrios Dourados e competem por um quarto particular, após a morte da ocupante anterior. Os dois atores desdobram-se em várias personagens numa peça onde, já se sabe, o riso faz parte do espetáculo. Teatro Municipal Joaquim Benite > Av. Prof. Egas Moniz, Almada > T. 21 273 9360 > 27 mar, 1-2 abr, seg, sáb 21h, dom 16h > 27 mar grátis; restantes dias €20
PORTO
9. O Misantropo, Cine-Teatro António Lamoso, Santa Maria da Feira

Encenado por Mónica Garnel, este O Misantropo – por Hugo van der Ding e Martim Sousa Tavares a partir Molière encontra-se a percorrer o País – arquipélagos incluídos – ao longo deste ano, no âmbito de Odisseia Nacional do Teatro Nacional D. Maria II.
A ação da peça passa-se em 1721 – são os 14 anos das bodas reais do D. João V com a D. Maria Ana de Áustria e, para comemorar esse aniversário, faz-se um sarau cultural. No palco, uma companhia maltrapilha está tentar “colar com cuspo” O Misantropo de Molière para apresentar à corte, dali a 30 minutos. Cada uma daquelas oito personagens – interpretadas por Ana Guiomar, David Esteves, Inês Vaz, Joana Bernardo, João Vicente, José Neves, Manuel Coelho e Manuel Moreira – está mais preocupada com a resolução das suas quezílias do que com a estreia iminente. “Depois, é o descalabro a que Molière nos habituou”, diz Martim Sousa Tavares. A boa disposição está garantida, acrescentamos nós. I.B. Cine-Teatro António Lamoso > R. Prof. Egas Moniz, 11, Santa Maria da Feira > T. 256 370 802 > 25 mar, sáb 21h30 > €6 a €10
10. As Bruxas de Salém, Teatro Nacional São João

A peça de Arthur Miller, estreada em 1953, remete para factos históricos ocorridos em 1692, na pequena comunidade norte-americana de Salém, no estado do Massachusetts, em que mais de 200 pessoas (mulheres, sobretudo) foram perseguidas e julgadas por bruxaria, 20 das quais condenadas à morte. O extremismo religioso, a superstição e as falhas graves nos procedimentos judiciais conduziram a este resultado fatal, sendo que apenas a 31 de outubro de 2001 todos os envolvidos nos processos foram formalmente declarados inocentes pelo governo estadual. O dramaturgo norte-americano escreveu este texto num “ato de desespero” e usou aqueles acontecimentos como alegoria para a febre anticomunista liderada pelo senador Joseph McCarthy, nos meados do século XX. “Um poderoso libelo contra a prepotência, a intolerância e a estupidez”, como é descrito no programa do Teatro Nacional São João, que volta a levar à cena a peça (a primeira vez foi em 1962), agora encenada por Nuno Cardoso. A atualidade do tema da “caça às bruxas” é inegável, face à polarização política radical da nossa sociedade, ameaçando mesmo os pilares da democracia. J.L. Teatro Nacional São João > Pç. da Batalha, Porto > T. 22 340 1910 > até 2 abr, qua, qui, sáb 19h, sex 21h, dom 16h > €7,50 a €16
11. Frágil, Teatro Helena Sá e Costa

A celebrar 35 anos de uma “vida intensa”, o Teatro de Marionetas do Porto (TMP) regressa neste sábado, 25, e domingo, 26, ao Teatro Helena Sá e Costa, com Frágil. Uma peça sem texto, para maiores de três anos, com uma narrativa de enorme fantasia, onde, por vezes, as coisas não são bem aquilo que parecem. Gostam de ser pessoas, por exemplo. Na verdade, são coisas que gostam de se mexer, de rir, de gostar ou não. Neste mundo delicado, com cenário feito de papelão e caixas de cartão, há também segredos que não se explicam, ou ficam por desvendar. Sem uma história com início ou fim, cabe à imaginação de cada um construir a narrativa. Estreado em 2011, Frágil é um espetáculo “muito especial”, iniciado pelo seu fundador, João Paulo Seara Cardoso (1956-2010), e terminado pela companhia, sob a direção artística de Isabel Barros. Em cena, Micaela Soares e Vítor Gomes, do elenco residente, e o convidado Bernardo Gavinha, são os atores deste “exercício de estímulo positivo à imaginação” para miúdos e graúdos. S.S.O. Teatro Helena Sá e Costa, R. da Alegria, 503, Porto > T. 22 519 3765 > 25-26 mar, sáb-dom 16h > €3 a €8
12. Rei Édipo, Teatro Carlos Alberto

Esta criação do coletivo SillySeason partiu de um desafio lançado por Nuno Cardoso, diretor artístico do Teatro Nacional São João, a três jovens: Cátia Tomé, Ivo Saraiva e Silva e Ricardo Teixeira, a trabalharem sobre uma tragédia grega. A escolha do coletivo recaiu num olhar contemporâneo sobre Rei Édipo, de Sófocles, peça que depois de se ter estreado em Lisboa, no CCB, sobe agora ao palco do Teatro Carlos Alberto, no Porto. Teatro Carlos Alberto > R. das Oliveiras, 43, Porto > 23-26 mar, qui 19h, sex 21h, sáb 19h, dom 16h > €5 a €10