De câmara em punho, tiveram de abrir caminho num mundo dominado por homens. Trabalharam em diferentes contextos, a desbravar terreno em cenários de guerra, na arte contemporânea ou na vida quotidiana. E afirmaram-se em nome próprio. Ao todo, a exposição Lente Feminina, patente no Centro Português de Fotografia (CPF), no Porto, até 22 de maio, reúne obras de 27 mulheres fotógrafas, de diferentes origens, representadas na Coleção Nacional de Fotografia. Mulheres “cujas práticas individuais contribuíram para a excelência da narrativa fotográfica”, como é descrito pelo CPF.
Reconhecida como a primeira fotógrafa de guerra dos Estados Unidos, Margaret Bourke-White registou episódios históricos marcantes do séc. XX, da Grande Depressão ao Holocausto. A britânica Julia Margaret Cameron foi uma das fotógrafas mais inovadoras do séc. XIX, com os seus retratos oníricos, pouco convencionais, e a incorporação de temas místicos e literários. Berenice Abbott calcorreou as ruas de Nova Iorque e captou as mudanças da metrópole durante as duas Grandes Guerras.
Em Portugal, Helena Almeida afirmou-se como uma das artistas plásticas mais proeminentes da segunda metade do século XX, criou uma obra que atravessa as fronteiras disciplinares, sobretudo através de uma intensa reflexão sobre a autorrepresentação. As preocupações sociais, nomeadamente na forma como retratou os trabalhadores afro-americanos nas plantações do sul dos EUA, foram centrais na obra da norte-americana Doris Ulmann. A brasileira Elza Lima tem encontrado na Amazónia terreno fértil, inspirando-se na cultura local, mitologias e histórias. Já a franco-suíça Sabine Weiss Weber foi descrita, por altura da sua morte, em 2021, como “a última fotógrafa humanista”, pela sensibilidade com que perpetuava cenas comuns. Registos muito distintos, mas que contribuíram para o ultrapassar dos preconceitos associados à profissão.
À frente da lente
Em Lisboa, nesta terça, 8, é inaugurada a exposição O Tempo das Mulheres com fotografias de Alfredo Cunha, acompanhadas por textos de Maria Antónia Pala (curiosamente, a sua primeira chefe numa redação), convidada para uma reflexão no feminino. A propósito do tema, escreve a jornalista e feminista: “Somos mulheres ou homens, por um jogo de acasos, desde o momento da conceção. Mas não é esse facto que nos une, a nós, mulheres. Vivemos em hemisférios diferentes, em continentes, países e sociedades desiguais, trilhamos percursos de vida próprios. A desigualdade que nos separa não depende da cor da pele, nem da língua que falamos, do traje que usamos, ou sequer da idade. O que nos torna diferentes é a cultura, as tradições, a circunstância de usufruirmos ou não de direitos. Nada disto depende de nós. O que nos torna diferentes é o facto de sermos livres ou não”.
As imagens foram captadas ao longo de 50 anos de carreira do fotógrafo, entre 1970 e 2019, em mais de 20 países, e estão divididas em quatro temáticas: O Sol da Vida (a infância); A Idade da Inocência (a juventude); O tempo das Cerejas (a idade adulta); e o Cair das Folhas (a terceira idade). A mostra, que o autor descreve como “um tributo às mulheres” conta com 50 fotografias – uma seleção das que foram publicadas no livro com o mesmo nome, publicado em 2019 – e estará patente, até 8 de abril, no espaço Atmosfera m Lisboa.
Lente Feminina > Centro Português de Fotografia > Antiga Cadeia e Tribunal da Relação do Porto > Lg Amor de Perdição, Porto > T. 22 004 6300 > até 22 mai, ter-sex 10h-18h, sáb-dom 15h-19h
O Tempo das Mulheres > Atmosfera m Lisboa > R. Castilho 5, Lisboa > T. 21 000 2872 > 8 mar-8 abr, seg-sex 9h-19h