Imagine-se um realizador com a oportunidade de filmar o caso Watergate, em tempo real, com uma câmara no gabinete de Nixon e outra na redação do Washington Post? À devida escala, tal é o que se passa em Colectiv, o filme de Alexander Nanau, que foi nomeado para Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Documentário nos Oscars deste ano, sem ter ganho nenhuma das estatuetas. É uma obra notável de perspicácia documentarista e sentido de oportunidade. Não é um filme de fazer acontecer, como por vezes acontece nos documentários de Michael Moore, mas antes de saber estar no sítio certo à hora certa.
Em foco, um dos mais decisivos momentos da História da Roménia recente (e com este “recente”, deixamos para trás a queda de Ceausescu, que já foi há 22 anos). Um incêndio numa discoteca em Bucareste, sem as condições legais de segurança, provocou dezenas de mortos e muitos outros feridos. O cuidar dos feridos acabou por revelar um sistema nacional de saúde corrupto e inoperante, incapaz de salvar vidas. Denunciado por um jornalista de investigação, isso provocou a queda do governo e a gestão por uma equipa de tecnocratas, que procurou, em tempo recorde, fazer as mudanças estruturais que permitissem limpar a corrupção transversal das unidades hospitalares e seus gestores.
O realizador, com um sentido de oportunidade impressionante, documenta tudo isto – desde a investigação jornalística ao trabalho do ministro da Saúde provisório, com presença em reuniões, mostrando-nos cenas privadas, momentos marcantes, de forma tão completa que até nos faz perguntar se estamos perante um documentário ou uma obra de ficção.
Embora o registo seja significativamente diferente, é inevitável encontrar uma afinidade temática com A Morte do Sr. Lazarescu, de Cristi Puiu, uma das obras maiores do novo cinema romeno. Nanau vai por outro caminho, sem grande espaço para a autoironia, mas faz um filme prodigioso que, apesar de se centrar numa questão local, nos convida a um debate sobre a corrupção como o grande mal endógeno que corrói os sistemas democráticos.
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Colectiv – Um Caso de Corrupção > De Alexander Nanau > 109 minutos