É a mais conhecida multidão da arte nacional, devolvendo poses e enigmas, a dos denominados Painéis de São Vicente de Fora, atribuídos a Nuno Gonçalves, arrumados em torno do Infante, do Arcebispo, da Relíquia, dos Cavaleiros, dos Pescadores e dos Frades. E foi objeto de uma obsessão de Almada Negreiros (1893-1970) durante décadas, mercê de um suposto acordo de estudo eterno feito, aos 25 anos, com Amadeo de Souza Cardoso e Santa Rita. Só Almada, o sobrevivente, o cumpriu: a pesquisa intensa durante décadas assentou-a na proposta de reconstituição retabular congregando 15 pinturas, crente de que a obra seria para a Capela do Fundador do Mosteiro da Batalha – onde se apresentará, em breve, a exposição Almada Negreiros e o Mosteiro da Batalha, Quinze Pinturas Primitivas num Retábulo Imaginado, com reproduções à escala real e desenhos preparatórios, cadernos de estudos, fotomontagens e maquetas.
Mas Almada defendeu sobretudo a aplicação de uma estrutura geométrica à obra (aí encontrando formas reconhecíveis, como retângulos, circunferências e hexágonos) como ferramenta de interpretação das pinturas. Uma tessitura de fios, apontando direções e pontos de fuga, observável já na Sala do Tecto Pintado do Museu Nacional de Arte Antiga.
A exposição, comissariada por Simão Palmeirim e o investigador da área de matemática Pedro Freitas, apoiada pelos resultados recentes do trabalho de investigação pluridisciplinar em torno do espólio Almada Negreiros/Sarah Affonso, revela duas peças de grandes dimensões Estudo em Fio dos Painéis de São Vicente e Os Quinze Painéis na Capela do Fundador – nunca antes apresentadas em formato completo – assim como dois desenhos inéditos de Almada dedicados à pintura Ecce Homo. Uma produção que continua a interpelar mistérios.
Almada Negreiros e os Painéis > Museu Nacional de Arte Antiga > R. das Janelas Verdes, Lisboa > T. 21 391 28 02 > até 10 jan, ter-dom 10h-18h > €6