“Black Painting (Perfect Lovers)”, 1997, de Rui Toscano
DMF
Um colecionador privado pode exercer o gosto pessoal em liberdade, sem constrangimentos com critérios de representatividade ou preenchimento de lacunas. Um mandamento que Pedro Cabrita Reis, nome maior do panorama português emergido nos anos 1980, exerceu para construir um acervo significativo: a partir de finais de 1990, o artista dedicou-se a adquirir obras de artistas que viriam a tornar-se representativos da geração seguinte à sua – casos de Carlos Bunga, Francisco Tropa, Joana Vasconcelos, João Louro ou Vasco Araújo.
Em 2015, Cabrita Reis vendeu esta considerável coleção, constituída por cerca de 400 obras de 74 artistas portugueses, à Fundação EDP (por um milhão e meio de euros). Decisão que o próprio explicou como sendo um gesto coerente: afinal, o objetivo de uma obra de arte é ser vista. E é isso que se pretende com Germinal, o Núcleo Cabrita Reis na Coleção de Arte Fundação EDP. Revelado pela primeira vez na Galeria Municipal do Porto, entre março e maio deste ano, o espólio tem agora uma mostra expandida no MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa.
De João Ferro Martins, 2010
A exposição, curada por Pedro Gadanho e Ana Anacleto, é dominada pela chamada geração de 90 e por um certo experimentalismo – prova do olhar eclético de Pedro Cabrita Reis. Apresenta obras de dezenas de artistas, alguns representados com séries generosas, como Carlos Bunga e as suas “arquiteturas pobres”, ou as pinturas de Jorge Queiroz. Os media são também diversos. Aqui, tanto há instalação, como por exemplo a literal Swinging Electric Chair, de João Paulo Feliciano ou a maqueta de edifício feita de fósforos e cinza, Colapso (Escultura inflamável #2, de Rodrigo Oliveira), como pintura (Gil Heitor Cortesão, José Loureiro, Paulo Brighenti, Pedro Gomes…), fotografia (João Tabarra, Nuno Cera), vídeo (António Olaio, Pedro Cabral Santo, Noé Sendas…), desenho (Luís Nobre, Rui Moreira) e escultura (como o icónico e gigante Barco Negro, de João Pedro Vale).
Para assinalar esta ocasião, a Fundação EDP inaugura igualmente uma nova instalação do próprio Cabrita Reis: uma peça escultórica, um totem de luz e alumínio batizado como Central Tejo, que ficará instalada no pontão junto ao pólo museológico.
De Gil Heitor Cortesão
Germinal > MAAT, Av. Brasília, Central Tejo T. 210 0281 30 . Até 31 dez, qua-seg 11h-19h. €5