
Pós-Pop mostra obras produzidas até 1975, como é o caso de Delacroix no 25 de Abril em Atenas pintada por Nikias Skapinakis (na imagem), para evidenciar “como o desejo de liberdade (…) se reflete nas obras posteriores ao 25 de Abril”
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A pop? Tem 50 anos, sobrevive às correntes e às rugas, e mantém a caracterização cunhada pelo artista Richard Hamilton em 1957: “Popular (destinada a um público de massas), Efémera (uma solução a curto prazo), Prescindível (facilmente esquecível), De baixo custo, Fabricada em série, Jovem (dirigida à juventude), Espirituosa, Sexy, Atrativa, Deslumbrante. Um grande negócio.” Assim o recorda Pós-Pop. Fora do Lugar-Comum – Desvios da Pop em Portugal e Inglaterra, 1965-1975. A união de artistas nacionais e britânicos, na exposição curada por Ana Vasconcelos e Patrícia Rosa, explica-se pela forte presença de obras pop inglesas na Coleção Gulbenkian. “Curiosamente, não tem um Richard Hamilton, mas tem um [David] Hockney de 1971”, refere Ana Vasconcelos à VISÃO Se7e. “Nesta altura, há uma viragem, um reequacionar da vanguarda. Em Portugal, vivia-se outra realidade, asfixiante. Os artistas ingleses querem ir para Nova Iorque, e os portugueses querem ir para Inglaterra, fugindo do imobilismo salazarista”, contextualiza a curadora. Então a viver em Londres, Ana Hatherly (de quem se vê um surpreendente retrato de Orwell) faz “uns postalinhos, pequenos formatos ingleses”, aqui reunidos. Por cá, Teresa Magalhães queixa-se de que “nada se passa em Belas Artes”, e desta artista esquecida revelam-se obras desconcertantes, inéditas, da sua “incursão por esta pop tardia vista pelo olhar de portugueses”. Não é revelação única em Pós-Pop: Fátima Vaz, Maria José Aguiar, Ruy Leitão (que estudou em Londres com Patrick Caulfield, e de quem se mostra uma pintura dada como desaparecida) são artistas “fortíssimos” para quem o tempo “foi injusto, e não o tempo escultor de Marguerite Yourcenar”, defende a curadora. “Estas obras têm frescura e atualidade, e Pós-Pop faz a reposição de um full picture...”, assume.
Há ainda inéditos de João Cutileiro e José Guimarães, por entre estes trabalhos que utilizaram os recursos visuais da pop (colagem, repetição, ready-made…) mas acrescentaram poesia, surrealismo e consciência social ao seu lado consumista e superficial. “Os artistas portugueses percebem muito bem o que está em causa na pop, e criticam-na e transcendem-na. É a capacidade das periferias para fazerem desvios…”

Sem Título, colagem de Teresa Maglhães
D.R.
Museu Calouste Gulbenkian > Av. de Berna, 45A, Lisboa > T. 21 782 3000 > 20 abr-10 set, qua-seg 10h-18h > €5