Não há muito a dizer sobre a vida de ‘Paterson’, um motorista de autocarros da Carris lá do sítio que tem o nome da cidade onde vive. Mas Jim Jarmusch fez de Paterson um filme. Uma espécie de hino e incentivo à descoberta da beleza nas coisas simples do quotidiano, num espírito próximo do budismo, mas também em linha com alguma da grande literatura. Nos intervalos da jorna, enquanto espera pela mudança de turno, à hora de almoço, este Paterson de Paterson escreve os mais belos poemas. Uma poesia descritiva, implicada com o real e com o quotidiano, despida de subterfúgios, minimalista, por vezes naif, mas com um extraordinário poder empático, fruto do uso assertivo das palavras e de uma capacidade rara de observar os detalhes.
Jarmusch faz um filme focado nessa repetição incessante das rotinas. A saída de casa, a chegada ao emprego, a condução pela cidade, o caminho para casa, o serão com a mulher, o passeio do cão, a ida ao bar. Tudo parece estupidamente igual, de uma banalidade humana, uma vida sem sobressaltos. E Paterson faz desse dia a dia a sua ermida, o seu retiro poético. Distante de Só os Amantes Sobrevivem (2013), a última ficção de Jarmusch (pelo meio fez um documentário sobre os Stooges), mas igualmente soberbo, Paterson é também uma homenagem a William Carlos Williams, grande poeta americano do século XX, com um livro dedicado àquela cidade, onde viveu. E já agora a Ron Padgett, poeta contemporâneo do Oklahoma, o verdadeiro autor dos belíssimos poemas escritos no filme.
Paterson > TVCine 1 > 7 abr, sáb 21h30 > repete 17 abr, ter 21h30