Depois de levar à cena um texto mais distante do seu universo – o melancólico Encontrar o Sol, de Edward Albee –, Ricardo Neves-Neves regressa com um espetáculo que tem todos os ingredientes do seu teatro. E em todo o seu esplendor. Karl Valentin Kabarett parte de 16 peças curtas do autor, ator e músico de Munique, extraídas de dois livros que reúnem grande parte da sua obra: A Ida ao Teatro e outros textos e A Fanfarra e outros textos, da coleção Livrinhos de Teatro, dos Artistas Unidos/Cotovia.
Karl Valentin pega em situações corriqueiras para explorar o absurdo e os limites da linguagem. Como diz o encenador do Teatro do Eléctrico, são textos “à volta de nada mas em que esse nada é defendido com unhas e dentes e dito com todo o coração”. Neves-Neves leva isso até às últimas consequências, exponenciando o sentido e o potencial cómico das peças com os artifícios do seu teatro: o trabalho em torno do sentido musical da palavra (coros, repetições, lengalengas e palavras inventadas); a criação de momentos de puro nonsense; a preocupação (se não mesmo obsessão) com o ritmo e os tempos do movimento e das coreografias dos atores.
Tudo se torna ainda mais vibrante pela presença de uma orquestra (dez músicos e um cantor lírico), que, com os onze atores, interpreta canções de repertório popular alemão do início do século XX.
Karl Valentin Kabarett > Teatro da Trindade > R. Nova da Trindade, 9, Lisboa > T. 21 342 3200 > 13-23 jul, qui-sáb 21h30, dom 16h30 > €12 a €14