É uma pequena história nova-iorquina com a humanidade realista e minimal como só o cinema independente americano sabe fazer. Assim se define o último filme de Ira Sachs, Homenzinhos, que, apesar de possuir esse naturalismo minimalista do cinema que imita a vida, tem a arte de desenhar personagens não estereotipadas, de grande densidade psicológica, criando conflitos morais e sociais, sem heróis nem vilãos.
A parte inicial do filme serve para criar os alicerces do conflito. Brian e Kathy decide mudar-se para Brooklyn, após a morte do pai. O filho, Jake, adapta-se à nova realidade com a importante ajuda de Tony, o filho de Leonor, uma costureira chilena, arrendatária do falecido avô. As dificuldades no teatro levam Brian a proceder a um brutal aumento de renda da loja, que Leonor não consegue pagar. A proximidade e empatia criadas em torno destas personagens impossibilita-nos de olhar para Homenzinhos como uma história de bons e maus. São antes círculos que se tocam e entram em conflito nas zonas de interceção, aquelas em que os objetivos das personagens colidem.
Tudo é feito dentro de um consciente dilema moral (e também de classe), que ganha outra leitura quando se enquadra ao nível das crianças, pré-adolescentes. Jake, claro, não entende a decisão dos pais. E de alguma forma trata a questão com emoção, o que, na verdade, o aproxima do olhar maduro que o avô tinha perante a vida. Uma sobriedade infantil que o leva a permanecer mais próximo do essencial. Assim se justifica o título, Homenzinhos, pequenos crescidos. É que, enquanto os adultos vivem num emaranhado psicológico e neurótico (que, na prática, os afasta dos valores), as crianças, com a sua postura talvez ingénua mas sobretudo genuína, estão mais próximas de uma maturidade emocional. Sachs faz uma aproximação afetuosa entre avós e netos, deixando desamparada a geração dos pais, como uma geração perdida, embora faça por a entender, mais do que condenar.
O filme está cheio de bons momentos e sobretudo de grandes atuações. Bons desempenhos de Greg Kinnear e de Jennifer Ehle. Mas sobretudo de Theo Taplitz e Michael Barbieri, de apenas 13 e 14 anos, que aqui se estreiam no cinema com papéis fantásticos e um notável à-vontade, mesmo quando o filme se desdobra em camadas, com atuações dentro das atuações. Certamente que voltaremos a falar deles.
Homenzinhos > de Ira Sachs, com Greg Kinnear, Jennifer Ehle, Paulina García, Theo Taplitz e Michael Barbieri > 85 minutos