Magda Bizarro
António e Cleópatra começam por não estar em palco – apenas os imaginamos nas palavras e nos gestos de Sofia Dias e Vítor Roriz, bailarinos e coreógrafos feitos atores nesta peça de Tiago Rodrigues. De Cleópatra fala Vítor, de António fala Sofia. Frases curtas, descritivas, acompanhadas de movimentos que quase parecem os dos marionetistas. “António inspira, Cleópatra expira, António expira, Cleópatra inspira.” Dois quase num só. Personagens que Plutarco deixou escritas, que Shakespeare reescreveu, que Mankiewicz filmou e que Richard Burton e Elizabeth Taylor interpretaram – tudo isso está ali em palco, nesta encenação que tem muito de coreográfico e também de musical.
“António e a Cleópatra são mais nuvens do que personagens, são mais coisas das quais falamos do que coisas que vemos”, diz Tiago Rodrigues. Entre a rainha do Egito e o imperador de Roma há amor e política, numa relação que nos deixa quase exaustos e sem respirar perante aquele sentimento indescritível. Uma relação que faz com que se tornem no outro – e, nesta ideia apenas, sublinha Tiago Rodrigues, fala-se de amor, de política e também de teatro, fala-se das personagens e dos intérpretes. Ao ponto de Vítor poder ser, de facto, António e Sofia, Cleópatra.
Magda Bizarro