Jesus Ubera
É a forma de participação do público que aqui se questiona. Em A Morte da Audiência, o performer Bruno Humberto convida os espectadores a entrarem num jogo, dando-lhes instruções que os levam a interagir consigo e com o resto dos presentes. O espetáculo, que integra o Cumplicidades – Festival Internacional de Dança Contemporânea de Lisboa, é apresentado esta sexta-feira, 18, e sábado, 19, no Claustro do Museu da Marioneta, em Lisboa. “O público é um elemento que precisa ser assimilado durante um espetáculo, assim como o movimento, o texto, o som ou o espaço. Aprendemos que o público é um tradutor e escreve a sua história. É uma relação de reescrita constante sobre a parte da realidade intensificada que selecionamos do processo de pesquisa. É preciso dar o valor e o espaço que o público necessita e que está preparado para assumir”, defende Bruno Humberto.
A dramaturgia do espectador já é parte integrante da prática do performer, que tem explorado esta interação com o público. A ideia para a criação de A Morte da Audiência surgiu quando estava a apresentar o espetáculo anterior, Holding Nothing, em Inglaterra. Por uma logística do espaço, Bruno Humberto ficou debaixo do palco, no escuro, a ouvir os passos do público enquanto as pessoas se posicionavam em círculo. Essa espera fê-lo pensar: “Se calhar, estava morto ou, se calhar, o espetáculo já estava a acontecer e eu não podia sair daquele sítio. E daí começou a dar-me ansiedade, senti-me um bocado como um animal se deve sentir antes de entrar numa arena de circo”.
Jesus Ubera
A partir desta experiência, conta, o artista interessou-se por esse espaço de tensão, “da possibilidade do não acontecimento e de assimilação do erro”. “Quis trabalhar com a humanidade do performer e do espectador, e, ao mesmo tempo, com a crueldade que está impressa em todos os tipos de espetáculo e de rituais. Há sempre uma avaliação, um critério do que é bom ou do que é necessário”, sublinha Bruno Humberto, assumindo ainda que este tipo de trabalho exige muito do performer, a nível físico e emocional, e que não há uma tentativa de gerir todas as interações ou mesmo de estar no centro de todo o processo.
A Morte da Audiência tem três versões anteriores, as Working in Progress Versions. As primeiras foram apresentadas no Trispace e no The Place, em Londres, em 2014, e a última, no ano passado, no Atelier Real, em Lisboa. Agora, estas apresentações no Festival Cumplicidades são uma versão mais complexa do trabalho do performer, encenador, compositor e músico. “Crio uma estrutura em que o público se sente livre e não forçado a fazer nada. As pessoas podem entrar no jogo proposto ou não entrar. A mesma instrução dada a indivíduos de contextos culturais diferentes gera interpretações diversas. Trabalho muito com a improvisação e com a dramaturgia da audiência. A receção à performance tem sido bastante positiva e intensa. Às vezes até demais!”, revela Bruno Humberto. Depois do Cumplicidades, A Morte da Audiência tem duas apresentações marcadas para setembro no Estado de Pernambuco, no Brasil.
Museu da Marioneta > R. da Esperança 146, Lisboa > T. 21 394 2810 > 18-19 mar, sex-sáb 19h > €7,50