Numa altura em que se fala de comunistas, eles chegam em força ao palco do Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada. Não foi propositado, sublinha Rodrigo Francisco, que há muito anda a preparar a encenação deste texto do escritor e dramaturgo russo Vsevolod Vichnievski – mas é curioso ver agora esta peça e ouvir algumas das frases que ali se dizem. Em cena, o confronto, durante a guerra civil russa, entre uma tripulação de marinheiros anarquistas e uma comissária bolchevique, enviada a bordo do navio com a missão de os mobilizar para a causa comunista. De um lado, a liberdade individual, do outro, a ditadura do proletariado, num texto que nunca tinha sido encenado por cá, mas que é considerado uma das peças fundamentais da dramaturgia europeia. “O que me interessa aqui é o debate filosófico entre anarquismo e comunismo”, afirma Rodrigo Francisco, que recorda o entusiasmo com que há 40 anos se discutia política em Portugal. “Será que a partir de um conjunto de vontades individuais se consegue impor uma vontade coletiva?”, é uma das perguntas que fica nest’A Tragédia Optimista. Nenhuma ditadura pode levar à liberdade, acreditam uns. A morte não existe, acreditam outros, a nossa causa não se esgota em vida. Ainda é possível olhar o mundo assim? “A peça fala sobre os valores que a Revolução Russa, que inspirou muitas outras depois dela, transmitiu ao futuro. E que são valores fundadores das sociais democracias em que vivemos, são os valores que nos regem no Estado Social”, aponta o encenador, acreditando que “a ação política dos artistas de teatro pode ser mais eficaz se passar pela escolha de um repertório e daquilo que vale a pena propor ao público”. “Podemos entender-nos?”, perguntará um dos anarquistas. “Temos de nos entender e vamos entender-nos”, responderá a comissária, deixando-nos, nos dias que correm, com um sorriso inevitável na cara. Naquele palco, haverá “palavras de honra comunistas”, cedências, união de vontades, divergências, debates de ideias – e também cravos vermelhos, uns “olhe que não”, um E Depois do Adeus e outras piscadelas de olho a quem se senta na plateia.
A Tragédia Optimista > Teatro Municipal Joaquim Benite > Av. Professor Egas Moniz, Almada > T. 21 273 9360 > 4-13 dez, 13-31 jan, qua-sáb 21h30, dom 16h > €6 a €13 (€14, jantar + espetáculo)