Como é que vamos conseguir voar entre dois pontos sem termos qualquer tipo de referência geográfica visual e sem avistar a linha do horizonte durante milhares e milhares de milhas? Seguimos o Sol e as estrelas com um sextante, como fazem os navios. Eis a resposta de Gago Coutinho (Miguel Damião) ao desafio lançado por Sacadura Cabral (Gonçalo Waddington).
Em 1919, os dois argonautas oficiais da Marinha planeavam assim a viagem ao Brasil, entre Lisboa e o Rio de Janeiro. Depois de os norte-americanos e os britânicos terem cruzado os céus do Atlântico Norte, Sacadura Cabral quis suplantar as viagens anteriores da aviação naval. Se os portugueses foram os primeiros a chegar ao Brasil pelo mar, também eles quiseram ser os primeiros pelo ar. E conseguiram-no, realizando a primeira ligação do Atlântico Sul em 1922.
Enfrentar rotas e coordenadas desconhecidas, ventos e turbulência, além da concorrência do Exército, com o aviador Sarmento Beires (Francisco Froes) a completar a mesma ligação aérea transatlântica noturna numa só etapa, também fizeram parte da história passada num país falido, a atravessar uma crise económica, com picardias entre monárquicos e republicanos, incluindo entre jornalistas. Assim se conta em A Travessia o episódio que foi um marco na aviação mundial, idealizado e concretizado por portugueses.
Para Fernando Vendrell, realizador habituado a projetos de cariz histórico (3 Mulheres, O Dia do Regicídio, Bocage), A Travessia “assume particular relevo no universo da lusofonia” atual, ao abordar a experiência profissional em África dos dois pilotos, que escolheram o Brasil como destino, sem esquecer o fluxo da emigração da altura. O cineasta valoriza também o facto de Gago Coutinho e Sacadura Cabral sobressaírem num universo audiovisual cheio de referências de ascendência anglo-saxónica.
A Travessia > RTP1 e RTP Play > Estreia 27 jan, seg 21h > 6 episódios, um novo à segunda