Convenhamos que para se fazer um documentário impactante, de pouco mais de uma hora, sobre o ano 2020 não é necessário muito mais do que fazer uma boa montagem de algumas imagens e episódios que dispensam voz off. Mas o autor e produtor britânico Charlton Brooker (criador da popular série Black Mirror) quis ir mais longe. Neste mockumentary (a fórmula é a de um clássico documentário, mas tem elementos de ficção), inventou personagens, interpretadas por um notável naipe de atores e atrizes, para comentarem os acontecimentos reais do ano passado.

É assim que Hugh Grant se transforma no historiador Tennyson Foss, Samuel L. Jackson é o jornalista nova-iorquino Dash Bracket, Diane Morgan é Gemma Nerrick, “uma das cinco pessoas mais medianas do mundo” e, entre várias outras criações (um cientista, uma psicóloga, um youtuber, a Rainha de Inglaterra…), Cristin Milioti é uma notável soccer mom norte-americana, intoxicada por todos os disparates que vê na internet. Matéria para um humor sarcástico e, muitas vezes, implacável não falta – quase sempre centrada em acontecimentos de Inglaterra e dos EUA, e com a pandemia a tomar conta de quase tudo a partir de certa altura.
Agora que 2021 já corre sobre carris (numa viagem que, diga-se, não está a correr lá muito bem…), um dos efeitos mais fortes deste Death to 2020 acontece quando olhamos para alguns momentos inenarráveis de Donald Trump enquanto Presidente e sentimos que são imagens que pertencem decididamente ao passado.
Death to 2020 > Já disponível Netflix