O destino era a ilha do Rato, um pequeno banco de areia em pleno mar da Palha, junto ao Barreiro, e foi na falua Esperança, embarcação tradicional do rio Tejo, com Eduardo Lopes como mestre, que zarpámos da Doca de Santo Amaro, em Lisboa, para participar nesta aventura que abriu o programa Ciência Viva no Verão deste ano.
Também conhecida como Mouchão das Ostras, por ter sido berçário da ostra-portuguesa, consumida entre nós e exportada sobretudo para França, até aos anos 1970, este oásis fica no estuário do Tejo, um dos maiores da Europa com cerca de 320 quilómetros quadrados.
A Caminho da Ilha do Rato, assim se chama a atividade com a duração de 4h30, enquadra-se no âmbito dos Alertas da Natureza, e aconselha-se levar calçado adequado para caminhar na areia e sobre pedras e conchas. “Fazemos uma recolha de resíduos, enquanto exploramos um pouco da ilha e damos conta do impacto que o lixo tem sobre este estuário, riquíssimo em biodiversidade. Depois há um piquenique partilhado”, diz Gentil Rocha, guia de serviço e funcionário da Câmara Municipal de Lisboa, uma das entidades parceiras deste passeio, a que se junta o Mare – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da Universidade de Lisboa.
Em terra e no ar
O programa Ciência Viva no Verão surgiu em 1996, há 28 anos, uma ideia lançada pelo antigo ministro da Ciência Mariano Gago, dirigida a pessoas de todas as idades. “Começámos com a Astronomia na Praia e fomos alargando a áreas geográficas e temáticas”, explica Rosalia Vargas, diretora do Pavilhão do Conhecimento e presidente da Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, entidade organizadora.
Neste ano, estão agendadas mais de 400 ações, até 15 de setembro, que se multiplicam em várias sessões por todo o País. A maior parte é gratuita e esgota rapidamente, mas pode ficar-se em lista de espera. “Ao primeiro minuto já tínhamos 430 participantes”, congratula-se Rosalia Vargas. O número espelha o interesse e entusiasmo do público para explorar e experimentar as mais variadas áreas do conhecimento científico, da Astronomia à Biologia, passando pela Física, Botânica, Química ou Engenharia.
Nesta edição, os aventureiros vão poder descer por cabos à gruta da Varjota, no concelho de Loulé, uma lição de geologia que requer destreza física, ou caminhar à descoberta da impressionante garganta escavada pelo rio Ocreza no vale Mourão, em Sobral Fernando, Proença-a-Nova.
Aos amantes da fauna, convida-se à observação noturna de camaleões, no Parque Natural da Ria Formosa (28 ago e 4 set), enquanto na Herdade do Vale Gonçalinho, na Reserva da Biosfera de Castro Verde, se explica a evolução dos dinossauros às aves (8 ago), guiados por Simão Mateus, paleontólogo e diretor científico do Dino Parque Lourinhã.
Também se vai andar de olhos postos no céu. Em Tavira, há observação da Lua ao telescópio, colocado sobre a ponte romana (16, 21 ago, 13 set), e, em Borba, um jantar petisqueiro revela a relação entre o vinho e os corpos celestes, atividade para maiores de 18 anos a demonstrar que o Ciência Viva no Verão é pensado e dirigido a todos os públicos.
“No início, tínhamos um número verde para informações. Uma vez, um menino ligou a perguntar se podia levar os pais; respondemos ‘claro que sim’”, conta Rosalia Vargas. “É preciso começar cedo na Ciência, e bem, mas vamos sempre a tempo.” Esta é uma boa oportunidade.
Ciência Viva no Verão > Até 15 set, vários locais do País > inscrições em cienciaviva.pt/verao/2024/