A fachada comum, pintada de branco, passa certamente despercebida ao corrupio constante na comprida Rua de Costa Cabral, no Porto. Situada a cinco minutos da Praça Marquês de Pombal, a Casa-Museu Fernando de Castro é um lugar que desafia a lógica residencial, pautado pela excentricidade e a ausência do vazio. Aberta, agora, a visitas regulares, para entrar é preciso tocar à campainha. “Faz parte da experiência”, diz-nos Ana Mântua, a coordenadora da casa-museu.
Para trás, deixamos os sacos e as mochilas, por uma questão de segurança, nossa e da vasta coleção que cobre paredes e teto. E o espanto começa, logo ali, no corredor desta casa que, desde 1952, pertence ao Museu Nacional Soares dos Reis. Foi morada do poeta e caricaturista Fernando de Castro (1888-1946) e a decoração revela um padrão que, explica Ana Mântua, vai-se repetindo em quase todas as divisões, “com talha dourada ou encerada a meia altura da parede, depois pintura, imagens religiosas e cerâmica”, que o proprietário foi colecionando. Também há livros em todo o lado de autores nacionais, outros ligados à História e às artes.
Apesar da aparente falta de lógica museológica, não faltam histórias no meio desta confusão que cativam as visitas. É assim na sala regional, com elementos alusivos ao Minho, as figuras populares de barro de José Joaquim Teixeira Lopes (pai do escultor António Teixeira Lopes) ou o portão idêntico ao da Igreja de São Francisco. Na sala de jantar, além de arte sacra, pintura naturalista e das portas para lado nenhum, “há de facto um caos, um horror ao vazio”, nota a conservadora. Tudo é excessivo, pesado.
Já no primeiro andar, a sala amarela, ou de baile, é mais palaciana, luminosa, com muitos espelhos, mas menos peças e sem imagens religiosas. “É o nosso petit Versailhes.” À medida que subimos, a decoração surge “mais caótica e alucinada”, o mobiliário é escuro, há até uma espécie de igreja com um púlpito. Estranha, inexplicável e curiosa, esta casa-museu.
Casa-Museu Fernando de Castro > R. de Costa Cabral, 716, Porto > ter-sex 10h-17h > €2 (marcação prévia através do email cmfc@mnsr.dgpc.pt)