Há um mês e picos, a Câmara de Lisboa anunciou que ia desligar algumas fontes da capital por causa da seca. Entre elas estaria a fonte luminosa que encima a Alameda D. Afonso Henriques, por ser uma das que desaproveitam a água. Quando li a notícia, pensei que era uma pena ficarmos ainda que temporariamente sem as suas cascatas monumentais, claro, mas a decisão traria uma vantagem óbvia: deixava à vista as primeiras mulheres nuas que muito bom menino viu naquele bairro.
Nem é preciso recuar ao tempo em que a fonte foi inaugurada, há quase setenta anos. Bastam-nos uns trinta e poucos, quando os anúncios de gel de banho não se atreviam sequer a mostrar mamilos. Um passeio com os avós até à fonte luminosa, supostamente para ver as vistas lá de cima, sempre dava para entrever vários corpos de mulheres (treze, contei agora), todas nuas e de braços erguidos a segurarem búzios. E gozar ao perceber as curvas que lhes deu Maximiano Alves, também autor do monumento aos mortos da Grande Guerra, na Avenida da Liberdade.
Por estes dias, a água, afinal, continua a jorrar com força e ruído na fonte da Alameda, mas não tem qualquer importância. Com a idade descobre-se que a beleza é muitas vezes maior quando dificilmente entrevista.