Antes de mais nada uma declaração de princípios: não sou fã de gatos. Em Inglês, para ficar mais suave: I’m not a cat person. Ou como sabe o meu alergologista: se há um gato na sala, desato logo a chorar.
Mas nada disso me impede de gostar dos gatos do Cemitério dos Prazeres.
Por esta altura do ano, claro que são as tílias, olorosas até quase ao enjoo, que nos apanham logo à entrada. E, mais para sul, sobretudo nos caminhos das paredes de gavetões, há jardins suspensos de flores de plástico deliciosos de tão kitsch e a pedirem meças a um ou outro jacarandá em flor.
Estamos longe de um jardim como o do cemitério inglês na Estrela, mas a sensação de paz é parecida. E é nessa equação que entram os gatos dos Prazeres. [Uns parêntesis retos para escrever que durante anos pensei que “paz” se escrevia com xis, culpa da inscrição no jazigo de família.]
Devem ser uma meia dúzia (nunca os encontrei todos juntos) e alguns são bastante esquisitóides, com falhas de pelo ou a língua sempre de fora como o da fotografia. Mas basta vermos um deles entre as campas para nos lembrarmos de que a vida continua. Haja sombra e água fresca para atravessarmos mais um verão.