O edifício é discreto, como se tivesse estado sempre ali, e, no entanto, a nova Biblioteca de Marvila veio agitar as águas. Estamos na freguesia de Lisboa com os níveis de literacia e empregabilidade mais baixos, bairros sociais em volta, muita gente nova que não terminou a escola. E questionada a utilidade de uma biblioteca por quem o que queria mesmo era ter ali uma esquadra da PSP, havia todo um trabalho a fazer. Para isso, convidaram-se as pessoas a entrar, a participar em atividades e “constituíram-se grupos para perceber que expectativas tinham e quais as suas necessidades”, conta Susana Silvestre, chefe de Divisão da Rede de Bibliotecas da Câmara Municipal de Lisboa. Inaugurada que está a biblioteca, diz que “não há um único graffiti ou um único vidro partido”, sublinhando assim que “a perspetiva dos moradores mudou e já sentem o espaço como seu”.
À disposição estão duas áreas de leitura, com mesas e computadores para trabalhar, três salas para crianças (divididas consoante a faixa etária), oficina de trabalhos manuais e ainda auditório que, não chegando para os ensaios da Marcha de Marvila, como já avisou o presidente da Junta de Freguesia, pode servir para bailes ou sessões de cinema – para cruzar públicos, é ali que vai decorrer, no próximo ano, a 3ª edição do Festival Ar, dedicado ao novo cinema argentino. “É uma biblioteca do século XXI”, diz a vereadora Catarina Vaz Pinto e, “nesse sentido, é muito mais do que um depósito de livros”. “É um espaço partilhado de aprendizagem, de cultura e cidadania ativa, inserida na comunidade”, explica. E exemplifica: a coleção de livros, constituída por 13 mil títulos, “irá crescer de acordo com as necessidades dos seus utilizadores”. A contar a história de Marvila está a exposição no foyer, com fotografias de 1930 a 1970 do Arquivo Municipal de Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian e Torre do Tombo. E, em breve, vai estar a funcionar a zona da cozinha, “onde se pode vir beber um café ou participar num workshops para aprender, por exemplo, a preparar refeições saudáveis sem gastar muito dinheiro”, adianta Susana Silvestre.
Construído de raiz, no lugar que foi em tempos a Quinta das Fontes, o edifício, desenhado pelo arquiteto Hestnes Ferreira, desenvolve-se à volta do antigo lagar de azeite e está ligado a um outro, agora reabilitado. Ali, além das salas de formação e dança, expõe-se a biblioteca pessoal e alguns objetos de José Gomes Ferreira, como a escrivaninha na qual o escritor trabalhava ou as cadeiras desenhadas pelo seu amigo, Keil do Amaral.
São 16 as bibliotecas – mais outra, itinerante –, que integram a Rede de Bibliotecas da Câmara Municipal de Lisboa. Destas, Marvila é a primeira a ser construída de raiz segundo o programa Biblioteca XXI que, desde 2011, tem vindo a ser implementado. Com 2 600 metros quadrados, é a maior em termos de área de construção e a segunda, depois das Galveias, em termos de coleção.
Biblioteca de Marvila > R. António Gedeão, Marvila, Lisboa > T. 21 817 3000 > seg-sáb 10h-18h