Apesar da desconfiança com que habitualmente se recebem este tipo de compilações, sempre recorrentes a cada final de ano, o nome de Nick Cave acaba por funcionar como um selo de garantia para os fãs, em cuja memória, mesmo passados 16 anos, ainda está bem presente o primeiro tomo desta compilação. Tal como aconteceu em 2005, o objetivo passava por resumir a carreira de Nick Cave com os Bad Seeds (então ainda um “jovem” projeto musical com pouco mais de 20 anos) através de uma série de temas inéditos – no sentido de nunca antes editados em álbum. Tal como acontece nesta segunda parte, dedicada ao período entre 2006 e a atualidade, precisamente aquele que corresponde à aclamação do músico australiano como um dos melhores escritores de canções da história, mas também de queda aos infernos e posterior redenção através da arte.
Se por mais não fosse, só isso faria desta coletânea uma peça fundamental, pelo modo como ajuda a desvendar uma das mais complexas e fascinantes personalidades da música popular de hoje.
A escolha das 27 gravações inéditas, a cargo do próprio Nick Cave e do seu inseparável lugar-tenente Warren Ellis (há 16 anos essa incumbência coube a Mick Harvey), acaba no entanto por funcionar como se de um álbum com princípio, meio e fim se tratasse, revelando ao mesmo tempo muito do processo criativo que conduz às canções finais, tal como as conhecemos – como é o caso de Skeleton Tree, Girl In Amber e Bright Horses, aqui apresentadas nas suas primeiras versões.
Outros momentos altos são a versão ao vivo (com a Orquestra Sinfónica de Melbourne) de Push the Sky Away, o dueto com Debbie Harry em Free to Walk ou a apropriação de Avalanche, de Leonard Cohen. Pelo meio disto tudo, há preciosidades como Earthling, Euthanasia ou Vortex, três canções com tudo para se tornarem clássicos, mas que, por qualquer razão incompreensível para os comuns mortais, não tiveram lugar nos álbuns ditos oficiais.
Ouça aqui o tema Vortex