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Gonzalo Marroquin
Não é preciso avançarmos muito na audição de Landfall para percebermos como este é um encontro que faz todo o sentido. A voz serena de Laurie Anderson a contar–nos histórias, memórias e reflexões ao ouvido e as cordas exploratórias, livres, também serenas e, especialmente aqui, melancólicas do Kronos Quartet. Este registo, em faixas (30, ao todo) quase sempre muito breves, nasce de um outro momento: aquele em que esta colaboração se materializou num espetáculo multimédia, em 2013, em vários palcos do mundo. Agora em disco (gravado em estúdio), voltamos a recuar aos dias (no final de outubro de 2012) em que o furacão Sandy devastou a costa leste dos EUA.
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Laurie Anderson, que a partir de Nova Iorque tem desenvolvido, há muito, um trabalho que cruza várias artes (performance, instalação, vídeo…), sentiu esses dias de forma especial e transformou-os, aqui, em sons (todas as composições são suas) e palavras. É mais do que provável que todo o tom melancólico do disco também resulte da convivência com os dias finais do seu marido, Lou Reed, que morreria em outubro de 2013 e foi acompanhando todo o progresso do projeto Landfall. O disco é-lhe, aliás, dedicado: “Para o feroz e terno Lou Reed, que nunca desistiu.”