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Não é normal associarmos a ideia de prazer à de vanguarda, sobretudo quando se trata de música erudita. Claude Debussy (1862-1918), sobre cuja morte se cumprem 100 anos neste domingo, 25, desmente esse lugar-comum. A sua música é das mais agradáveis que se podem imaginar (no caso dela, ouvir é imaginar, ainda que nem sempre à letra), mas foi também uma das poucas que, sem dúvida, ajudaram a criar o século XX. Recorrendo a outro lugar-comum: após Debussy, a música nunca mais foi a mesma.
O marco inicial tradicionalmente invocado é a peça orquestral Prelúdio à Sesta de Um Fauno, dez sumptuosos minutos de fluidez melódica, harmónica e orquestral que nos trazem uma perpétua manhã, apesar do título. A melodia inicial tocada pela flauta solo tornou-se universalmente conhecida, e é, de facto, sobre ela que assenta o resto da construção. Estreado em 1894, quando Debussy já ultrapassava os 30 anos, é uma perfeita ilustração da sua novidade e do cuidado absoluto que ele punha em tudo o que escrevia.
Debussy não era um compositor rápido, mas cada uma das suas obras principais é um momento de originalidade irrepetível. Isso vale tanto para as obras orquestrais (Nocturnos, Imagens, La Mer) como para as peças para piano (Estampas, Estudos, Prelúdios, Imagens, Children’s Corner, Suite Bergamasque…) e para o restante, incluindo aquela que é talvez a ópera mais importante do século XX: Pélleas et Melisande, sobre um poema de Maeterlinck.

Esta caixa de 33 discos é a primeira a reunir toda a obra conhecida do francês Claude Debussy. Inclui seis gravações em estreia absoluta, realizadas propositadamente para esta edição
Apesar de nunca ter feito estudos formais fora da música, Debussy adquiriu uma ampla cultura literária e visual que o ajudou a sintonizar-se com as correntes estéticas do seu tempo. Uma vida pessoal complicada, em que não faltou a tentativa de suicídio por parte da sua então esposa, bem como uma longa, dolorosa e humilhante doença foram o preço da criação de uma linguagem e um acervo que transcendem o qualificativo de Impressionismo, sem lhe serem alheios.
A presente caixa da Warner apresenta a sua obra quase integralmente. Alguns itens menores foram omitidos, mas em contrapartida surgem peças nunca antes gravadas e registos do próprio Debussy enquanto pianista. Reunindo a Warner os grandes catálogos clássicos da EMI e da Erato, não surpreende encontrar aqui uma amostragem bastante razoável dos intérpretes de topo do último meio século.