Na viragem da década de 90 para os anos dois mil, quando já todos carpiam a morte do rock (e outros até a celebravam), uma nova geração de bandas como os The Strokes, os White Stripes ou os Black Rebel Motorcycle Club provaram uma vez mais a imortalidade do mesmo, com um regresso às origens feito de guitarras desenfreadas, casacos de cabedal e um punhado de canções que se viriam a revelar eternas. O rock, afinal, estava bem vivo e apesar das recorrentes mortes anunciadas aí continua a reinventar-se, como sempre fez desde o seu nascimento, algures a meio do século passado. E, por vezes, o melhor é não inventar muito, como o sentiram os californianos Black Rebel Motorcycle Club em certos momentos da sua já longa carreira, que este ano cumpre o número redondo de duas décadas. E que melhor modo de o celebrar do que com um disco como este, que parece trazer de volta o trio composto por Peter Hayes, Robert Levon Been e Leah Shapiro à melhor forma.
Wrong Creatures demonstra que, na música e ao contrário da química, uma mesma fórmula pode ter variados resultados. Sim, as guitarras desenfreadas e (quase de certeza) os casacos de cabedal continuam lá, a embalar e decorar um punhado de canções rock perfeitas, algumas até surpreendentes, que afastam a banda da sua sonoridade mais clássica, em direção a territórios mais negros e cinemáticos (por vezes mais próximos do universo de uns Nick Cave and the Bad Seeds, como acontece, por exemplo, com o piano em crescendo da faixa final All Rise). Talvez este álbum responda finalmente à pergunta que faziam em 2001, numa das canções mais famosas do álbum de estreia homónimo: Whatever happened to my rock’n’roll? Pois bem, cresceu, tem mais 20 anos, mas continua bem vivo e de perfeita saúde.
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