Ninguém olha para Nick Cave and the Bad Seeds como (mais) uma banda. Por um lado, é justo: sem Nick Cave, nada faria sentido. Por outro, é até bastante injusto: pelos The Bad Seeds têm passado grande músicos, de personalidade forte, criativos, com marcas distinguíveis. Como diz Mick Harvey, uma das mais notáveis e antigas “más sementes” (citado no texto de Kirk Lake que acompanha esta antologia): “Seria muito difícil para o Nick trabalhar com músicos de sessão. Ele precisa de pessoas que tenham empatia pelas suas ideias e idiossincrasias – quando começamos a trabalhar numa nova canção, ele dá-nos algumas diretivas sobre a atmosfera e o impacto pretendidos, mas depois seguimos o nosso faro e as coisas começam a acontecer…”
A história dos Bad Seeds já vai longa. Há muitas entradas e saídas desde os primeiros passos em 1984. O timoneiro Nick Cave (a caminho dos 60 anos, que completará a 22 de setembro) é o denominador comum, mas sente-se uma mudança clara quando revisitamos a ruidosa, selvagem e experimental criatividade do alemão Blixa Bargeld nos primeiros tempos (com a banda a fazer lembrar, ainda, aqui e ali, o caos feito rock, ou vice-versa, dos Birthday Party, a formação anterior de Nick Cave), que encontra uma simetria, no século XXI, no espantoso e livre violino de Warren Ellis. Os Bad Seeds são do mundo. Por lá passaram músicos de diversas nacionalidades, a banda já foi de Berlim, de Londres, de São Paulo… É o braço armado de Nick Cave e muito mais do que isso.
E porque dar destaque a uma simples antologia com “o melhor de…”? Porque neste caso, e depois do disco de originais Skeleton Tree, esta é uma excelente prova de vida, depois do terrível trauma de Nick Cave (há dois anos um dos seus filhos gémeos morreu, numa queda num penhasco, com apenas 15 anos). E, sobretudo, porque esta é uma das mais notáveis viagens que a música popular nos permite fazer ao longo das últimas décadas, vendo as paisagens mudarem pela janela.
Ouça aqui Girl in Amber