É já o quarto disco assinado por Rita Redshoes, o que permite reconhecer um caminho percorrido, uma direção. Para descobrirmos que, na verdade, ela está no mesmo sítio onde se encontrava quando iniciou um percurso artístico em nome próprio, em nome de uns sapatos vermelhos que tanto evocam o Feiticeiro de Oz como uma canção de Bowie. Não é que não exista uma evolução – porque, claramente, há – ou novidades, também há. Mas a identidade artística de Rita Redshoes estava bem desenhada nas canções de Golden Era (2008), com o próprio título a evocar uma antiga e suposta “época dourada”. Esse fascínio por velhas canções, que há uns bons 50 anos procuravam serenamente a perfeição, um estatuto de clássicos instantâneos, entre a invenção da pop e as raízes folk, encontra-se aqui como se encontrava nas primeiras criações de Rita.
Sem revoluções nem arestas bem vincadas, à procura da canção perfeita. Mas vamos às diferenças, ao que muda em oito anos. Pela primeira vez, Rita canta em português – em três faixas, uma delas (Vestido) com letra de Pedro da Silva Martins. E isso não é um pormenor. Esta viragem do inglês para o português faz pensar na mesma decisão de David Fonseca (com quem Rita partilhou muitos palcos) há um ano. Mulher torna-se quase uma canção-manifesto e, até pela surpresa, agarra-nos às palavras: “Sou mulher, contra mim o que vier é bem-vindo se trouxer igualdade e desalinho…”; “…e não escondo que o desejo é maior que o medo”.
Depois, há toda a envolvência musical de uma solidez a toda a prova, muito mais sofisticada e rica do que no disco de estreia. Se a primeira faixa nos soa como uma possível “murder ballad” de Nick Cave (quase esperamos a entrada da sua voz a qualquer momento…), isso não é uma coincidência. O produtor de Her é o australiano Victor Van Vugt, que produziu precisamente Murder Ballads, o disco comercialmente mais bem sucedido de Nick Cave & the Bad Seeds. Gravado em Berlim, o novo disco de Rita Redshoes conta com instrumentistas experientes com grandes colaborações no currículo como Earl Harvin (Tindersticks), Greg Cohen (John Zorn, Tom Waits, David Byrne, Laurie Anderson…) ou Knox Chandler (Depeche Mode. R.E.M…).
É, definitivamente, o disco de uma mulher que sabe que o desejo é maior que o medo. Como sempre deveria ser para todos.
Veja o vídeo de Life is Huge