Por culpa do calor que aqui fazia antigamente, os populares chamavam Brasil a este lugar onde acaba de ser erguido o Douro Wine Hotel & Spa da Quinta São José do Barrilário. Nos últimos dias de agosto, quando visitámos o segundo cinco estrelas no Douro do Grupo Terras & Terroir, donos da Quinta da Pacheca (Lamego), não chegámos a sentir a canícula. E ainda bem.
Deixámos a Estrada 222 em direção a Armamar e, em poucos minutos, eis-nos instalados num quarto com uma generosa varanda virada para os vinhedos e com o rio Douro a correr ao fundo. Com 31 quartos (27 duplos e quatro suítes com janelas de alto a baixo para os socalcos), o Barrilário quer ser “um refúgio de silêncio”, por estes dias interrompido apenas pelas atividades da vindima.
“Digamos que [o Barrilário] é um complemento à Pacheca. Faltava-nos a vista de rio que conta muito aqui no Douro, e também nos faltavam mais quartos. Precisávamos de um hotel mais exclusivo”, resume Maria do Céu Gonçalves, administradora do grupo português.
A história desta propriedade de 26 hectares, sempre ligada ao vinho e aos barris (daí o seu nome), remonta a 1747. Reza a lenda, aliás, que, em tempos idos, um dos trabalhadores da quinta terá caído acidentalmente dentro de um barril e rolado por ali abaixo até ao ribeiro, tendo agradecido a vida a São José, o padroeiro da capela (do século XVIII), também ela agora recuperada. Pelo que a arquitetura deste hotel vínico de luxo, que ocupa um edifício com três pisos construído de raiz da autoria de Henrique Gouveia Pinto, quis respeitar esse passado. E isso nota-se tanto no design das camas de madeira, a recriarem a forma arredondada dos barris, como nas paredes de xisto ou no logótipo do hotel inspirado na iconografia da Companhia de Jesus encontrada no interior da tal capela com um belíssimo retábulo neoclássico que todos podem visitar.
Vinho, maçã de Armamar e mãos abençoadas
Podíamos ter ficado na varanda do quarto a beber um copo do novo vinho tinto Quinta do Barrilário (60% Touriga-Francesa e o restante Touriga-Nacional, Tinta-Roriz e Sousão) que por estes dias chegará ao mercado. Mas optámos por subir ao terraço para observar a piscina infinita com vista desafogada sobre as vinhas e sorver um refrescante Porto tónico no bar (há um segundo no hotel que serve bebidas e refeições leves).
E há muito com o que se entreter por aqui. Quem queira pode fazer provas de vinho, um piquenique debaixo de uma oliveira ou conhecer a quinta numa bicicleta elétrica (de uso gratuito) pelos caminhos de terra batida junto às videiras. Em breve, os hóspedes vão poder fazer workshops de olaria, de cocktails e de cozinha com o chefe Luís Guedes, responsável pelo restaurante do hotel, o Panorâmico – aberto a não hóspedes ao almoço e ao jantar. Natural de Tarouca, o chefe de cozinha de 31 anos, que sonhava ser engenheiro mecânico, quer “servir o melhor das tradições locais com um pouco de modernidade”.
Conte-se, por isso, com arroz caldoso de bacalhau e coentros, rodovalho e trufa de Trás-os-Montes, cabrito assado, frango do campo biológico com arroz de forno ou a conhecida maçã de Armamar, servida em sorvete à sobremesa ou em forma de sumo e compota ao pequeno-almoço. No futuro, o objetivo passa por levar à mesa também o azeite proveniente das oliveiras da quinta e o mel das 12 colmeias que ali instalaram (e que querem duplicar) ao encontro da sustentabilidade.
Terminamos a tarde no Terroir Vineyard Spa, que inclui duas salas de tratamento com produtos Cinq Mondes, Vinoble Cosmetics e Miyoko, sauna e piscina interior com circuitos de águas com vista para as vinhas. Entregamos as nossas tensões corporais nas mãos da terapeuta Tatiana Guedes e saímos de lá com a certeza de que a nova vida do Barrilário vai no bom caminho.
Douro Wine Hotel & Spa Quinta São José do Barrilário > R. de São Joaninho, Vacalar, Armamar > T. 254 103 328 > a partir €250 standard; €550 suíte
Dicas para explorar
Museus, miradouros e passeios para descobrir a região
Museu do Douro Instalado no antigo edifício da Casa da Companhia (século XVIII), retrata a história do património natural e cultural da Região Demarcada do Douro. Além da exposição permanente, Douro: Matéria e Espírito, com peças das coleções de arte e etnografia associadas à história da região vinhateira, inclui mostras temporárias. R. Marquês de Pombal, Peso da Régua > T. 254 310 190 > seg-dom 10h-18h > €7
Caminhadas Time Off A empresa de turismo de Natureza organiza caminhadas a pé, de barco ou de comboio pela região, desde as quintas às adegas e aos miradouros, com o mínimo de três horas (a partir €40, pessoa). T. 91 881 3459; timeoff.pt
Miradouro do Ujo Entre São Mamede de Ribatua e Safres, Alijó é um dos mais recentes miradouros sobre o vale do Tua. Da varanda de ferro do Ujo (nome de uma ave de rapina), da autoria do arquiteto Henrique Pinto e do engenheiro Filipe Calisto, observa-se o rio Tua e a paisagem do vale.
Centro Interpretativo da Mulher Duriense Nasceu no verão de 2023, nas instalações de uma antiga adega cooperativa, com o intuito de preservar a memória das mulheres da região do Douro. Av. Dr. Oliveira Salazar, Armamar > T. 254 850 807 > seg-dom 10h-13h, 14h-18h > grátis
Espaço Miguel Torga Da autoria do arquiteto Eduardo Souto Moura, a casa onde nasceu o poeta e escritor (1907-1995) tem uma exposição permanente dedicada à sua obra. R. Miguel Torga, S. Martinho de Anta, Sabrosa > T. 259 938 017 > ter-sex 9h-12h30, 14h-17h30, sáb-dom 10h-12h30, 14h-18h30
Museu do Vinho de São João da Pesqueira No concelho que é o maior produtor da região, uma exposição permanente ligada ao vinho, com sala de provas e loja de vinhos. T. 254 489 983 > seg-dom 10h-13h, 14h-18h > grátis
Aldeias Vinhateiras São seis as aldeias que em conjunto partilham a identidade da região e da produção de vinho: Favaios e Provesende (na margem norte), Barcos, Salzedas, Ucanha e Trevões (na margem sul).