Já a noite tinha caído quando chegámos, com as luzes da Casa da Ínsua a guiarem-nos o caminho. Subida a primeira escadaria de pedra, é na receção que tomamos conta da preciosidade histórica onde acabámos de entrar. Já o sabíamos, mas nada como ver com os nossos próprios olhos. A casa – uma unidade de cinco estrelas gerida pela Visabeira e que, desde há um ano, é o primeiro Parador da rede espanhola fora de Espanha – é uma casa de charme cheia de raridades em todos os cantos, paredes e tetos, que remontam ao tempo em que Luís de Albuquerque, governador de Cuibá e Mato Grosso, a mandou construir.
Atravessam-se as salas e ainda lá está a mesa onde a família se reunia, a louça Companhia das Índias, o primeiro telefone da Beira Alta (terá sido a primeira casa da região a ter eletricidade), as cómodas chinesas, as lindíssimas pinturas nas paredes, as cozinhas com as panelas de ferro.
Dormimos num dos 30 quartos (a casa tem também cinco apartamentos), com as portadas de madeira a darem para o pátio com fonte de pedra. Manhã cedo, atravessamos os jardins de estilo inglês e francês, com espécies antigas como o pau-brasil e as sequoias, patos a pavonearem-se nos lagos, e seguimos para o ovil para assistir à ordenha (sempre às 6 e 30). O senhor Joaquim, o pastor, tem bem cuidadas as 120 ovelhas de raça bordaleira, cujo leite é essencial para produzir o queijo Serra da Estrela. Diz-se que, “no tempo do outro senhor”, a quinta – que tem um pomar de maçã bravo esmolfe e outras frutas, uvas de onde têm saído vinhos premiados do Dão (o primeiro tinto foi produzido em 1852) – só não produzia bacalhau nem arroz.
Noutras alturas, a propriedade tinha 370 pessoas só a cuidar da agricultura. O leite da ordenha dessa manhã segue para a queijaria onde as mãos da D. Maria do Céu e da D. Virgínia (a mulher do pastor) o hão de transformar nos conhecidos queijos e requeijões, seguindo a tradição nascida em 1908 e à qual todos podem assistir entre novembro e junho. Aqui, na Casa da Ínsua, só a cozinha de autor do chefe Paulo Cardoso nos faz regressar aos tempos modernos.
Para melhor compreender a história da família e da quinta – onde até gelo se produzia –, aconselha-se a visita ao núcleo museológico (€3/público, grátis para hóspedes), que foi recuperado recentemente em parceria com o Museu Nacional de Arte Antiga.
Casa da Ínsua > Penalva do Castelo > T. 232 640 110 > quartos a partir €85, suítes a partir €159, apartamentos a partir €106, pequeno-almoço €12