Sempre que José Avillez passava pelo Raio Verde, fechado e ao abandono há décadas na estrada do Guincho, pensava que um dia gostaria de ter ali um restaurante. “Lembro-me de ir lá almoçar em miúdo”, diz à VISÃO o chefe de cozinha nascido em Cascais. “Fomos abordados pelo senhorio e, no mesmo minuto, dissemos que queríamos ficar com ele”, confessa.
Pensado para abrir ainda antes da pandemia, o Maré está em funcionamento desde meados de maio, estendendo-se por duas salas, espaçosas e bem decoradas, e duas esplanadas viradas para o Atlântico. “O cheiro da maresia transporta-me para a infância, o mar foi sempre uma grande influência na minha cozinha”, afirma o chefe português com mais Estrelas Michelin.
O projeto de interiores assinado pelo Atelier AnahoryAlmeida evoca essa ligação, seja nos painéis de azulejos que lembram o fundo do mar, produzidos e pintados na fábrica Viúva Lamego, segundo uma ilustração da artista Henriette Arcelin, seja noutros elementos, como a raia em madeira com três metros, de Luis Gallego, suspensa na segunda sala.
Voltamos ao tema do mar, desta vez para saborearmos umas amêijoas à Bulhão Pato (€26/250g) e as gambas salteadas com alho e malagueta (€19), dois petiscos que lembram um belo final de dia de praia, aqui bem próxima. Seguimos pelo polvo com azeite e alho (€35/200g), acompanhado por batatinhas a murro com azeite de alho e emulsão de kimchi (€3,50).
A carta do Maré vive de peixe e marisco, entre um bar de crus, comida de tacho (arrozes e açordas) e grelhados, “num compromisso entre a tradição e a modernidade”, diz Avillez. Também inclui pratos de carne, de que é exemplo o bife do lombo com molho à café e batatas fritas (€35), tenro e guloso. Lá fora, sopra aquele vento característico do Guincho, mas na esplanada abrigada, em boa companhia, nem damos por ele.
Maré > Av. Nossa Senhora do Cabo, 9000, Cascais > T. 91 600 1527 > qua-qui 12h30-15h, 19h-22h30, sex-sáb 12h30-23h, dom 12h30-22h30