Tanka Sapkota não costuma ver as mensagens no telemóvel mal acorda, mas há uma semana tinha uma SMS a dizer-lhe que tinha sido encontrada uma trufa com 1,153 kg. Tanka acordou de imediato a mulher para se aconselhar e, em poucos segundos, decidiu arrematar “uma das maiores trufas brancas da década”. É com uma boa dose de genuinidade, algo infantil até, e um brilho nos olhos que o chefe nepalês, 44 anos, a morar no nosso País há 22, conta o episódio a um grupo restrito de amigos, do qual fazem parte também os jornalistas. Só não revela quanto pagou por 1,153 kg de trufa branca, mas garante que gastou uma parte das suas poupanças.
“Estou nervoso e contente ao mesmo tempo”, desabafava antes de destapar a trufa branca, sob um veludo vermelho. Para o chefe nepalês mais italiano de sempre, pelo menos de Lisboa, trazer esta trufa gigante para o Come Prima, o seu primeiro restaurante alfacinha, onde organiza a temporada há 11 anos, foi um “momento histórico”.
Este tem sido um mês de grandes emoções e alegrias para Tanka Sapkota. No passado dia 10 de novembro recebeu uma condecoração que o deixou muito orgulhoso, ele que trabalha com trufas há mais de duas décadas. Tal como outras 19 pessoas de todo o mundo, foi tornado Cavaleiro da Trufa e do Vinho de Alba pela ordem com o mesmo nome, existente desde 1967, em Piemonte, no norte de Itália. No castelo de Grinzane Cavour recebeu a condecoração pelo trabalho de divulgação dos produtos italianos de Alba no mundo. “Em Alba estão a conseguir divulgar o seu produto, mas nós também devíamos divulgar os nossos, como o azeite e o vinho, que são tão bons como os franceses, italianos ou espanhóis.”
Trufa branca e Come Prima são sinónimos, sempre servida da forma mais simples. Tanka defende que este fruto subterrâneo – uma das espécies de túbera (um género de fungos da família Tuberaceae), colhido de forma artesanal, com a ajuda de cães pisteiros – nunca deve ser cozinhado, “é um crime”, mas sim lascado à frente do cliente, e comido de imediato. Este ano, na habitual bruschetta com pão feito no forno a lenha do restaurante, o tártaro de tomate foi substituído por boletus do Fundão e trufa. A sala fica aromatizada com um perfume enxofrado que, na verdade, ou se ama ou se odeia.
Segue-se um momento de puro prazer com um ovo biológico (€34,90), que esteve uma hora e um quarto no forno a 64 graus e lascas de trufa branca por cima. Haverá maior simplicidade do que um prato com apenas dois ingredientes? Parece que não.
Sem grandes surpresas, sabemos que o próximo prato é o nosso preferido – um daqueles que nos deixa a salivar só de pensar nele. O tajarin al burro (€41,50), massa fresca com ovo biológico, parmesão, manteiga e trufa merece até um momento de recolhimento, de tão gulosa que é. Tanka gosta de mostrar que a carne também combina com a trufa, embora não seja tão previsível, mas a macia vitela mirandesa com cogumelos (€49,90) ficou aprovada. A temporada só dura mais duas semanas e a reserva é obrigatória.
Come Prima > R. do Olival, 258, Lisboa > T. 21 390 2457 > seg-sáb 12h-15h, 19h-23h, sex-sáb até 24h